sábado, 13 de dezembro de 2008



E era de novo Outono...e de novo aquela melodia melacólica entoava na minha cabeça...
Permaneces ai na frieza da casa com se ja nada mais te importasse...
És um bloco de gelo na minha existência ...e eu ja nao sei o que dizer ...se vou... se fico... não consigo perceber se isto é real se estou aqui...se estás aí...se realmente este dia existe ...e eu acho que não existe...acho que estou a sonhar isto...

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Os caminhos seguem-se caminhando....passo a passo...na direcção que se vai apresentando dia após dia....

Não sei se fui ou se fiquei aqui perdida e estática...não sei se me movo ou se o chão se move debaixo dos meus pés...não sei se passo pelas coisas ou se as coisas passam por mim...nada sei agora...um dia após outro...já nao sei..fingo o que sou...e não sou o que fingo...



Permaneço aqui na evasão deste dia...

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Eu nao quero admitir isto...não poderei jamais admitir...dói-me demasiado...é tremendamente sufocante....dói tanto que ás vezes é dificil respirar...as palavras ficam presas dentro de mim como espinhos cravados na pele...

sábado, 29 de novembro de 2008


Diz-me só desta vez...ouve-me...diz-me algo que me faça acreditar em alguma coisa...mente-me...podes-me mentir...eu deixo...não precisas de me dizer a verdade...não é isso que eu exijo de ti...apenas quero ouvir de ti alguma palavra...algo que me faça acreditar que isto é real...depois podes voltar para o teu mundo silencioso...eu não te pedirei mais nada...depois podes ir descansado...e eu permanecerei aqui como dantes...


Acho que já te perdi...acho que já partiste há muito...e eu nem me apercebi...a porta ainda tem o som da tua partida...e as paredes estão cheias do vazio da tua ausência...
já foste há tanto tempo e ainda parece que aqui estás...há fragmentos teus espalhados por aí...não consigo andar livremente pela casa sem esbarrar contigo...e no entanto vejo claramente que estou completamente sozinha aqui...
depois há o vento gélido do Outono que sopra em mim...como chamas incandescentes na minha pele...
Os dias começam e terminam...passam ao ritmo desenfreado das curtas horas da esquizofrenia desmedida deste tempo insaciável...e eu tento em vão continuar...caminhar e fingir que tudo faz sentido...mas há ainda os ecos da tua voz nos meus ouvidos...ainda há pedaços da tua epiderme nos móveis...e não é que eu me incomode...na maioria dos dias nem me apercebo...mas não sei se é deste Outono que teima em me atingir...ou se sou eu que ja não te consigo esquecer mais...estou assim...meio nostálgica...

Vou continuando..dia-após-dia...mas lembrar-me-ei de ti...porque não consigo simplesmente esquecer-te, ainda que tente muitas e muitas vezes...
Há estas palavras ....que me entoam na imensidão do meu silêncio...como se eu jamais podesse pensar noutra coisa qualquer a não ser em ti...

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Relembra-te de olhar sempre para o outro lado...de tentar sempre seguir o outro caminho....a vida não é feita apenas numa direcção...quando caminhamos muito tempo pelo mesmo caminho...o melhor é parar e tentar outra direcção...nada nem ninguém te poderá dizer que o caminho que segues não é o certo poque na verdade ninguém sabe o que é certo e errado...a vida é uma viagem repleta de verdades subjectivas...
Relembra-te sempre de tentar de novo...de seguir em frente mesmo após uma batalha perdida...ou mesmo após uma sequência de batalhas perdidas...relembra-te de nunca te deixar mergulhar na monotonia dos dias vazios...de vencer a rigidez dos músculos...a ausência das palavras...
Com o tempo vais-te aperceber que os muros não são assim tão altos...que as paredes não são assim tão opacas...há sempre uma forma de transpôr tudo o que se apresenta á tua frente...
Com o tempo verás que as coisas afinal são tão mais simples...
Com o tempo o que era complicado fica apenas na memória como mais um obstáculo ultrapassado...
Com o tempo o que era longe fica perto...e o que estava perto começa a ficar tão longe...
Lembra-te de não andares tão depressa...não te canses...caminha no tempo...com tempo...com calma...não deixes que o tempo caminhe abruptamente em ti....
Não te esqueças de olhar primeiro para ti...de te conheceres bem....de saberes bem a pessoa que és...podes nunca descobrir realmente, mas tenta todos os dias vasculhar dentro de ti em busca da tua identidade....depois de olhares bem para ti...de aprofundares a tua existência...olha á tua volta...aceita e descobre o mundo...a realidade...
Não percas demasiado tempo com preocupações...o que for que tenha que acontecer...acontecerá...quer te preocupes imenso, quer nem te preocupes nada...
Aceita as adversidades...elas fazem parte desta tua jornada...da tua aprendizagem...aceita-as...ultrapassa-as e esquece-as...deixa que fique apenas em ti a experiência, o que aprendeste...não permitas nunca que elas deixem em ti o medo de continuar...
A vida nem sempre vai ser doce...e não vai haver finais de "e viveram felizes para sempre"...aceita isso desde o inicio...não cries expectativas positivas em relação a nada nem ninguém...e assim não terás desilusões desnecessárias...as coisas são aquilo que pensas delas...aquilo que constróis em torno delas...
Não confies no senso comum...esquece! Não vivas das experiências dos outros...vai em frente...passa por debaixo das escadas...e deixa que os gatos pretos se atravessem na tua estrada...não procures mais um trevo de quatro folhas...desafia a sorte e o azar....
Cria novas histórias para a tua vida...sempre que aquela em que estiveres se tornar demasiado rotineira, aborrecida e previsivel...recomeça a qualquer hora...em qualquer lugar...muda de personagem e de argumento quanto te apetecer... a vida não é linear nem rectilínea...há inúmeras possibilidades...
Mente...diz a verdade...foge...volta...esconde-te....aparece...baralha as coisas...simplifica tudo...liberta-te...prende-te...joga...ganha...perde...tropeça...cai...levanta-te...racionaliza e perde razão....
Assume que nada é perfeito...nada nem ninguém...
Assume que vais errar imenso ao longo da tua vida...e assume também que vais acertar também inúmeras vezes...tens que manter o equilibrio...
Assume igualmente que as coisas não acontecem apenas aos outros...quer sejam coisas boas ou más...tu tens as mesmas possibilidades que o resto do mundo...tanto de ganhar a lotaria, como de ter um acidente de carro...
Lembra-te que o facto de seres uma boa pessoa...de fazeres boas acções...não te vai impedir que te aconteçam coisas muito más...mas lembra-te também de nunca interferires no livre-arbítrio dos outros...assim como nunca deves deixar que ninguém interfira no teu...
As coisas e as pessoas não são apenas boas ou más...tudo tem duas faces...
Não te enganes por aí a idolatrar dogmas abstratos e confusos que impoêm regras na tua vida sem que percebas muito bem porquê...assume que deves ser tu a criar e construir as tuas próprias crenças e convicções, porque és tu que vais ter que viver com elas e aceitá-las...não deixes que sejam outros a fazer isso por ti...assume que tu és a única pessoa a responder pelas tuas próprias acções...sejam elas boas ou más...
De resto...lembra-te de viver..viver a sério...conciliando as tuas obrigações com o as tuas diversões...sem que as obrigações sejam demasiadas que chegues ao ponto de já não te saberes divertir...vive a sério...mesmo...sabendo que as coisas mais simples e mais fáceis de encontrar são as mais preciosas...e são também as que com mais facilidade esqueces e perdes...
Lembra-te de respirar a casa segundo...o ar é precioso...lembra-te de sorrir...lembra-te de voltar a casa...e ser criança de novo...quantas vezes quiseres e te apetecer...
Vive com um pensamento bem presente: aconteça o que acontecer, em qualquer lugar, há sempre algo que podes fazer para mudar a situação
.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Não tentes mudar o rumo das coisas...o que é agora... jamais mudará...nada do que faças vai alterar o que quer que seja...

Nada podes fazer para impedir que eu parta agora...nada poderás fazer para tentar que eu permaneça aqui mais um dia...agarrei as asas e vou voar...voar para longe sem receios...vou perder-me das memórias todas que carrego comigo agora...vou despreender-me de tudo...hoje...agora sou apenas eu...sou apenas a pessoa que sempre fui...que um dia perdi...

Não sei o que dizer...as palavras estão estáticas no silêncio da minha cabeça...não sei sequer mais o que pensar...estou ofuscada por dúvidas e inseguranças...eu não quero voltar a pensar que estou perdida por tua causa...não podes ser a razão de tudo isto...não aceito!!

Nâo voltes...nao te quero mais ver aqui...quero que partas para sempre...e que para sempre permaneças na solidão dos dias longuinquos...o que foi jamais voltará...és poeira que o vento levou para longe...e pouco a pouco o tempo apagará a tua memória...quero esquecer a tua voz...os teus olhos...o que costumavas dizer e o que calavas tão bruscamente...quero que para sempre não haja mais o passado...não quero mais que o sabor daquilo que foste permaneça nos ecos das paredes da casa...partiste...para sempre partiste...não há volta a dar...

Hoje acordei e lembrei-me de ti...e não sei o que mais escreva em relação a isso...



terça-feira, 11 de novembro de 2008

Ainda sou a pessoa que era antes...mas há coisas que jamais poderei recuperar...há coisas que perdi para sempre na imensidão dos dias....há sorrisos...momentos...sentimentos...que jamais voltarão...há fileiras e fileiras de vazio a separar-me de tudo o que eu era...há desertos ...há mares..há muros...paredes altas e violentas...eu permaneço aqui perdida...parte de mim ficou lá...e parte de mim partiu há muito...

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Devemos dizer tudo…pronunciar cada palavra…
Deitar cá para fora tudo o que nos atormenta cá dentro….
Depois ficamos frágeis….nus…como se a nossa pele estivesse exposta de repente a todas as intempéries sem que nada a pudesse proteger…somos uma carcaça caída no chão…
Mas dizer tudo o que sentimos, liberta-nos…nunca poderemos culpar-nos das coisas que não aconteceram porque nós ocultámos algo...
Temos que dizer tudo o que está dentro de nós…tirar as máscaras…soltar as amarras…caminhar em frente…de cabeça erguida e passos firmes…
O que foi…ficou…bom ou mau…
Seja o que for o efeito que as nossas palavras provoquem…estão ditas …para o bem ou para o mal…
Que as palavras sinceras nos libertem…nos tragam noites de sono descansado…e dias de olhares seguros….
Que as palavras sinceras tornem a nossa viagem mais cómoda…com menos bagagem…

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Pouco a pouco as coisas que me tiravam o sono deixaram de me visitar…como se se tivessem cansado de mim…ou fui eu que me cansei delas…

Espera até ao dia em que consigas finalmente
brilhar no meio das sombras…esse dia pode demorar anos…uma vida toda…mas vale a pena esperar por ele…porque um simples momento de brilho vale por toda uma vida de enclausura…

Há um dia em que alguém bate á tua porta e te atira pedras contra á janela e que te acorda para coisas sobre as quais dormias até então …e sais à rua levando na mão as pedras que te atiraram e fazes delas a tua nova arma…e vês tudo de uma forma diferente…

Não adianta que os outros te digam que ainda é cedo para lutar…tu sabes que o cedo ou tarde é relativo…


E pouco a pouco os dias foram parecendo menos sufocantes…senti que depois de um pequeno esforço as coisas sempre estabilizam…


As coisas não são assim tão más como podem parecer, acredita…

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Para me sentir bem …nada mais fiz que perceber que eu era uma pessoa completamente banal…sem nada de interessante para contar ou para se destacar no meio da multidão…a partir do momento em que me apercebi de tudo isso, nada mais me atormentou…aceitei o facto de ser uma pessoa normal…aceitei a realidade em mim e decidi que o meu lugar era no meio do todo que me rodeia…
A maioria dos nossos problemas e complicações, somos nós mesmos a criá-los…dia após dias vamo-nos convencendo de que há algo errado connosco…não temos coragem suficiente para nos aceitarmos…criamos histórias e dilemas existenciais a nosso respeito…mas no fundo não nos apercebemos que somos apenas carne… ossos…sangue…respiramos todos o mesmo ar…precisamos todos de comida…temos todos que dormir e respirar…a verdade nua e crua é que somos todos animais…selvagens que vagueiam por aí no meio da civilização…

domingo, 26 de outubro de 2008

As ruas estão vazias…caminho… caminho e não chego a lugar algum…bato a portas que não abrem…sento-me em bancos de jardins abandonados…depois caminho mais…sem que ninguém apareça...mas não estou só…jamais estarei…estás comigo…estarás sempre…

Se tu não fosses o que eu queria …deixava-te ir ao sabor do vento de cada anoitecer… mas não posso…não consigo sequer imaginar a minha vida sem estar a pensar no que poderia ser…mas eu não consigo imaginar a minha vida sem ti…sem me olhares…sem te ver sorrir em casa dia

Se eu pudesse dir-te-ia que as coisas nunca são como tu idealizas….tudo se dá de uma forma que não podes controlar porque nada é como deveria ser …é melhor esqueceres tudo o que viveste tudo é morto e inútil e insuportável…

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Eu vou… sem saber para onde vou…pela primeira vez sigo em frente sem planos e medos…o que passou …ficou passado…apenas espero o que virá…nada mais me importa…vivo para o hoje…o momento imediato…

domingo, 19 de outubro de 2008

Descobri...

...descobri que viver sabe bem...

quinta-feira, 16 de outubro de 2008


Vamos acreditar que as coisas ainda não perderam o sabor…


Vamos acreditar que este momento agora sabe a presente e não está carregado de fragmentos do passado e do futuro…


Vamos acreditar que as coisas ainda têm sabor…

Sabor a amanhecer…sabor a luar…sabor a limão…sabor a açucenas…sabor a céu azul…sabor a água fresca…sabor a terra molhada…sabor a folhas de Outono…sabor a CASA…

Vamos acreditar que as coisas ainda têm aquele sabor dos longos dias de Verão da infância …



Vamos acreditar que a vontade de saborear as coisas ainda permanece…

domingo, 28 de setembro de 2008

Sem nada para fazer neste domingo chuvoso, eu dou por mim a pensar “porque não estás aqui?”...os dias passam devagar …ou muito depressa…e nada permanece em mim… toda a realidade é crua…nada tem sabor…ou eu não saboreio nada …todos os sabores me passam pela boca sem que nenhum fique…não que me sinta infeliz…não sinto, sabes…podia sentir, não é? Mas não sinto…acho que de certa forma aprendi a viver assim…com este sentimento…
Sem ti é como se tudo o resto já não fizesse sentido …estou caída na rua enquanto o mundo passa por mim sem reparar…
Eu não sei o que poderia dizer agora ou o que seria se as coisas pudessem ser diferentes…eu jamais pensei que ao olhar para trás mudaria as coisas, nunca mudam mesmo quando nós tentamos muito…quando nos esforçamos mesmo…

sábado, 27 de setembro de 2008

Nada mais pode ruir-me agora…estou onde sempre quis estar…pouco a pouco subo mais um degrau …ainda não atingi o topo…mas um dia após outro…vou seguindo em frente…nada mais me prende em lugar algum…sou um espírito livre sem pretensões …sinto que posso agarrar o mundo apenas com as minhas mãos…sem medos…sou a mesma pessoa de sempre…de ontem…da semana passada…do mês passado…sou a mesma pessoa de há anos atrás…mas agora sei que a vida é uma viagem cheia de inúmeras possibilidades…que se uma falha…muitas outras de apresentam á nossa frente…não há nada a temer…eu já não temo...já não fujo e nem me escondo…a vida é o que tem que ser…sem mais nada… de nada adianta fingir-se que se é o que não se é…de nada adianta fazer escolhas que nos afastam daquilo que realmente queremos...

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Ás vezes não sei o que me dá…estou para aqui a vaguear em pensamentos…frases…ideias…coisas ocas…opacas…divisões…janelas…jardins intermináveis…chaves…folhas de papel desocupadas …casas…árvores secas caídas…e eu…a minha imagem desfocada num vidro de um carro que passa apressadamente por mim na rua…pensamentos vazios aqui e ali…paredes que se erguem á minha passagem…e eu não sei se é de mim…ou os dias estão a passar cada vez mais depressa…

sábado, 20 de setembro de 2008


Libertei a minha alma no entardecer...quando a lua espreita pela colina e eu sou felicidade...

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Há em tudo o que me rodeia agora uma certa fragilidade…os objectos não permanecem nos mesmos lugares…as cores estão em constante mutação…os sons são imperceptíveis …
Permaneço a observar o horizonte sem pensar em nada…pela primeira vez não tenho expectativas nem planos… apenas sou o momento que se esgota de mim…apenas sou a luz que cai sobre a minha pele…apenas sou o ar que me rodeia…

Os dias já não são os mesmos…tudo se altera a casa minuto que passa….

Apenas a velha árvore permanece intacta face a todas as intempéries…apenas ela me olha sem pressas…a mostrar que o caminho é longo mas que eu tenho que ir devagar…

segunda-feira, 7 de julho de 2008

As palavras que não te disse e as coisas que não fiz estão guardadas na grande caixa fechada no tempo que jamais ousarei abrir...
Um dia talvez voltes...
Um dia talvez eu vá com a noite...
Um dia talvez te encontre onde nunca te perdi...
Um dia talvez não haja mais perguntas, nem respostas...
Um dia talvez eu te saiba...e tu me saibas...
Um dia talvez eu te deixe ir sem remorso...
Um dia talvez feche a porta sem olhar para trás...
Um dia talvez eu consiga agarrar as coisas que agora teimam em me escorrer das mãos como água...
Um dia, lá bem no fundo dos dias desertos, talvez o caminho se abra, os muros se quebrem e o espelho permaneça intacto...
As palavras que eu não te disse...carrego-as comigo...vão onde eu for e nunca me abandoman, até ao dia em que eu as liberte de mim e as pronuncie bem alto sem hesitar...
As palavras que não te disse, nunca foram na verdade palavras, não têm forma nem som...são apenas pensamentos súbitos sem consolação...
Os dias sucedem-se ao ritmo do relógio que ao fundo da sala teima em mostrar referências vãs de um tempo nulo...
Tudo permanece em silêncio...
Nem uma voz...nem um suspiro...
Eu caminho alheia pela casa...
Nada me prende...e tudo me agarra...
Nada me prende...nem as molduras com sorrisos distantes...nem os livros abertos em páginas aleatórias...nem os movimentos que se sucedem nos ponteiros do relógio...
Nada me prende...nem as memórias embebidas no pó dos móveis...nem os ecos que assombram o branco das paredes...
Se eu saisse agora não olharia para trás...mas toda a minha alma ficaria para sempre neste lugar...
Lá fora, uma leve brisa agita de mansinho as folhas das árvores, como se de repente elas dançassem ao som de um ritmo surdo e desenfreado..
E eu permaneço agora estática...inerte no vazio...
Imagino os dias...e as noites...
Á minha frente surgem imagens incandescentes de sonhos desfragmentados nos dias...
Se ao menos eu adormecesse...
Se ao menos, depois de dormir, eu acordasse então...
E os dias sucedem-se sem pedir permissão...
O dia de ontem já o perdi, o de hoje escapa-se abruptamente de mim...e o de amanhã não me pertence ainda...
Os dias não são meus...assim como não é meu o silêncio deste lugar...
Vagueio novamente pela casa...nada me pertence nesta solidão imaculada...
Nada me prende...e, no entanto, tudo me agarra...

terça-feira, 1 de julho de 2008

A maioria das pessoas nem se apercebe o quão surtuda é....caminha por aí à procura de coisas que já tem mas que não consegue ver...
Não sei se é o caminho que é longo demais, ou se fui eu que decidi parar…

quarta-feira, 11 de junho de 2008

As frases que escrevo estão a ficar extremamente vazias…baças…sem sentimento…sem significado…
As frases que escrevo agora…para nada servem…assumem-se como inúteis e assim permanecem…sem sequer se importarem…e eu, perante elas, sou impotente, nada posso…
Aquela música no fundo da rua transportou-me de repente para um lugar conhecido que eu há muito abandonara…e eu percorri o tempo…revoltei os dias…parei naquele instante exacto… no minuto que já passara…por entre as luzes do passado eu me confrontei com tudo o que eu fizera…
Gosto de pensar, que, a partir de um certo momento as coisas estão fora do meu controlo…eu posso até conduzi-las até uma determinada altura…mas depois elas soltam-se desenfreadas das minhas mãos…era nisso em que pensava naquele dia ao descer aquela rua e ao ouvir aquela música…
As coisas por si só são apenas coisas…mas a memória transfigura tudo...foi isso que me fez parar e ouvir aquela música com mais atenção…a música remexia nas minhas memórias…estava ligada a mim de algum jeito…
Depois comecei a pensar que eu vivia demasiado de memórias…e afastei-me á pressa dali…
Quem se alimenta demasiado do passado – como eu – perde imensas coisas do presente…apercebi-me quando verifiquei que as minhas memórias recentes eram apenas memórias de estar a relembrar alguma coisa…ou seja, memórias de memórias…percebi que estava a entrar num ciclo vicioso…




Quando não se consegue escrever mais nada...fica apenas isto...um esboço do que poderia ter sido...mas evidentemente nunca será...

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Desencontro


Passaste por mim a correr numa manha de Outono em que as folhas das árvores cobriam as ruas…vi-te a passar e duvidei logo a seguir que te vira realmente naquele instante…
Posso ter imaginado aquele momento…seria natural que assim tivesse sido…
Ao passar de novo, numa tarde qualquer, por aquelas ruas tão cheias de tudo e vazias para mim…jurei que me esperavas numa esquina escondida perto daquele jardim onde costumávamos ir…e vi-te…mas a seguir dissipaste-te no vento daquele entardecer…
Um dia decidi esperar-te…sentei-me naquele velho banco de madeira…e esperei-te…esperei-te sem fim…horas e horas…até que a manhã se tornasse tarde…e a tarde morresse na noite…e ao esperar-te soube desde o início que não virias…
Mas esperei-te como quem espera que algo aconteça mesmo sem saber bem o quê…
Esperar-te com a certeza de que não aparecerias era uma forma de me enganar com uma mentira na qual eu no fundo não me iludia demasiado…
Quando a noite caiu levemente nas copas das árvores…fui embora sem olhar para trás…
Imaginei naquele momento, que ao ir embora tu chegarias…que te sentarias no mesmo banco…e ficarias ali…horas e horas a olhar em redor…á espera…
Ficarias ali...a esquecer o tempo...e a noite tornar-se-ia em manhã…e a manhã daria lugar á tarde…e ao anoitecer partirias com o cansaço de uma espera sem resposta…
Partirias … para que quando eu voltasse já não estivesses lá…

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Hoje sinto-me…

Ou será que não me sinto?

Hoje ouço todas as palavras que nunca antes eu tinha conseguido ouvir…e sinto-as como nunca as tinha sentido…vejo-as na sua plenitude…

Vezes sem conta digo a mim mesma que estou a enlouquecer…ou deveria dizer para não me preocupar que não estou a enlouquecer?

E tudo segue o seu curso certo…e eu sinto que estou a perder o controlo dos meus passos…


Hoje definitivamente não me sinto! Não estou em mim…não compreendo o vazio que me devora silenciosamente…


Olho á volta…e sinto o caos a instalar-se em todos os pormenores que me rodeiam…

Está aí alguém?
Eu não estou….
Procuro incessantemente por algum sinal…uma reacção …
Apenas palavras se elevam dos destroços no chão…e me fitam…

Dia após dia a minha razão de desmorona um pouco mais…

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Eu poderia ter continuado em frente…o tempo apaga tudo não é?
Poderia não ter olhado para trás…poderia ter deixado as peças caídas no chão…

E aquele dia atropela-me hoje…

E não sei mais o que fazer…

Não sei se fui eu que desejei isto tanto que acabou por acontecer…

E eu tentei apagar as memórias, a sério que tentei…

As vezes imagino que nunca exististe…que foste apenas um pesadelo que tive…
Se ao menos ao não ver-te…eu pudesse esquecer-te…

E não é que a tua felicidade me deixe infeliz…não…

E não é que te odeie…não poderia mesmo que quisesse…mas estou cansada de me torturar…o tempo passa e sinto que estou a perder a noção de tudo…

És …já nem sei o que és…cansei-me de definir-te…ao principio definia-te…e encerrava o assunto… e continuava…e sabia o que eras…mas hoje não te consigo definir…e a sério que já tentei…e como não te consigo definir…sinto-me fustigada por pensamentos incoerentes…

Estás aí…e eu estou aqui…e as coisas parecem estar na perfeita harmonia…dizer que me flagelas a alma por entre esta distância toda, seria demasiado absurdo…não poderia dizer-te isso…
Mas isto tudo por si só é absurdo…eu escrever isto....

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Não tem que haver uma lógica, pois não?
Eu posso estar aqui agora e achar isto tudo á minha volta extremamente estranho…mas no entanto isto ser puramente natural…
Eu não tenho que ter sempre palavras para descrever o que sinto, pois não?
Eu posso simplesmente permanecer no silêncio e continuar a sentir imenso…se eu disser alguma coisa vou estar a limitar o que sinto…escolher uma palavra em vez de outra…muda tudo…
Eu não sei…a sério que não sei…as ideias estão desarrumadas na minha cabeça…eu penso mas não digo…e digo mas não penso…e outras vezes digo exactamente o que penso e penso exactamente o que digo…e não sei se alguém consegue notar a diferença…
Somos tão vazios…vazios… e em simultâneo tão complexos…caminhamos no tempo…e o tempo caminha em nós…caminhamos por vezes tão iludidos a pensar que estamos a enganar os outros…quando na verdade só nos estamos a enganar a nós próprios…
E eu por vezes não sei o que fazer…mesmo havendo tanto para fazer…eu poderia me levantar agora…sair de casa e fazer imensas coisas…dizer palavras que guardo na minha cabeça…poderia mudar o rumo deste momento…segundo a segundo…a vida delineia-se nas escolhas que vamos fazendo…grandes escolhas…e algumas mesmo muito pequenas…como eu escolher permanecer aqui a escrever isto…ou de repente parar e o texto ficar exactamente aqui…e levantar-me e ir fazer outra coisa qualquer…a sucessão das coisas seria diferente? Eu amanhã seria uma pessoa como memórias diferentes?
Eu vejo-me de dois lados…observo-me ao longe a ser a pessoa que sou com as coisas que faço…e vejo-me de outro lado…com outras possibilidades…outros caminhos que eu poderia ter escolhido…
E isto tudo não tem que ter uma lógica…quer dizer podia ter até um certo período de tempo…mas depois começa a ficar incómodo…e eu não sei…não sei sequer já o que estou a escrever…não sei já o que penso…as minhas ideias estão atordoadas …presas numa gaveta que não consigo abrir…
Ouve-se ao longe um ruído mudo ensurdecedor… e eu penso em tudo…e no momento em que penso em tudo…não penso em rigorosamente nada…
Passos…passos e mais passos que me perseguem na escuridão…e eu grito…grito sem que consiga emitir algum som…
Não há lógica nestes dias repletos de coisa alguma… e há ainda tanta coisa que eu não consigo dizer ou fazer…há ainda tanta coisa que me prende sem me agarrar…
Nestes dias tenho-me questionado coisas para as quais não tento arranjar uma resposta…não quero sequer saber a resposta…se ao menos eu soubesse menos respostas…talvez eu vivesse mais tranquila…de olhos fechados…presa na apatia da inconsciência…
E não tem que haver uma lógica nas coisas…não poderia haver…

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Pergunto-me quanto tempo vais precisares para te aperceberes que a casa está vazia? Para te aperceberes que não está mais ninguém aqui? Quanto tempo mais vais precisar para perceberes que as tuas perguntas não têm respostas? Que estás dentro de um quadro inacabado repleto de monólogos vãos? Quanto tempo mais ainda vais ficar aí, sabendo que nada mais há a fazer?

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Tudo é pesado quando estamos cansados…tudo é escuro quando apagamos a luz…Tudo fica longe quando nos afastamos…

Não há volta a dar…não consigo regressar para onde fui…nada posso ou quero fazer para alterar esta situação …os dias estão a ficar extremamente distantes…sem referências…
Vou deixar tudo para trás e não me importar…
Não sei mais quem sou…nem como estou agora…sou apenas uma mágoa vã e dolorosa…
Se houve dias em que te vi, te senti…perdi-os todos…
Longe…perto…não sei bem…
Se por vezes não te olhei…não foi porque não te visse, foi simplesmente porque me doía demasiado olhar-te…
Deixei-te…
Parti sem te dizer para onde…
Mudei o destino…
Entrei numa história que não era a minha…e sem remorsos…sem lembranças continuei, deixando-te para trás…
Foi o fim…eu sei…

quarta-feira, 30 de abril de 2008


Os teus olhos sangram…caminhas nas longas noites de tempestade á procura de algo que não quer ser encontrado por ti…
A escuridão é o teu único abrigo…nela permaneces em silêncio…e observas o teu túmulo envelhecido no pó…
Nada mais é igual…nada mais é o que era…a realidade já não te pertence…ainda que a teu espectro vagueie por aí…sem rumo… em passos melancólicos de solidão…

quarta-feira, 23 de abril de 2008



Ás vezes permanecemos em silêncio muito tempo…tempo demais até…e um dia decidimos falar…falar bem alto para que todos nos ouçam…um dia rompemos conosco próprios e gritamos bem alto tudo o que guardámos cá dentro durante uma vida inteira… e nesse dia nascemos de novo…sem a alma dormente e o corpo cansado…

Acordei…era um novo dia…foi mais uma vez só um sonho mau…

Ainda me lembro do momento exacto que desencadeou tudo isto…um momento tão ridículo que se eu o contasse agora, todos o iam achar tão inútil…incapaz de ser a causa de algo que permanece no tempo…
Se eu ouvisse outra pessoa contar…eu própria acharia ridículo…
Mas eu não sei…ou talvez saiba e não queira admitir que eu podia ter evitado tudo isto…talvez se tivesse ignorado tudo…seguido em frente…sem olhar para mais nada…
Mas agora é tarde…mesmo tarde…não que alguma vez tivesse sido cedo…mas hoje definitivamente é tarde…
Eu acho que já esgotei todas as palavras para descrever isto…isto…que já nem sei o que é…um sentimento…uma doença…algo sem o qual já não consigo viver…mas que me consome…mais e mais…
Não sei…antes acho que havia vezes em que eu ainda me perdia em palavras e frases que descreviam o que eu sentia…mas depois de tanto tempo…estou vazia de descrições…
As descrições esgotaram…e foram tantas…e funcionavam…mas nunca foram muito longe…eram baças…
Outras vezes perdia-me em frases choradas…como quem agarra nas lágrimas e lhes retira palavras…
Mas as frases “choradas” depressa se tornaram inúteis como tudo o resto…
Tentei queimar coisas…objectos…memórias…nomes…sons…imagens…juntei-os todos e atirei-os para a fogueira enfurecida dos dias…mas as chamas consumiram-se rapidamente sem destruir completamente tudo o que queria destruir…
Depois tentei a raiva…a fúria… o ódio…e usei-os durante muito tempo…alimentava-os todos os dias…e cresciam cada vez mais…depois até esses se tornaram meras máscaras sem expressão…
Passei depois por tempos em que me convenci (em vão) do esquecimento…foi dificilmente fácil…
Hoje não sei…a sério que não sei…tentei apatia…desprezo…e não consegui resistir a um bom desespero…a um sofrimento bem profundo…sempre dolorosamente familiar…
Até já me tentei convencer da ideia …cheguei a um momento em que me quis fazer acreditar que conseguia viver bem com a ideia…mas a aceitação era demasiado inerte…não corroía nada…era aborrecida…previsível …
É desesperante…sim…eu sei…mas não consigo evitar, no entanto, no final, divertir-me com isto…

terça-feira, 22 de abril de 2008

"Rodeada de caras familiares sem nome"

Eu acho que não me encontro aqui...já me procurei...mas nao estou em lugar nenhum...fui a todos os lugares onde costumava estar...e não estava lá...depois desisti de me procurar e vi-me ao longe num lugar sem memória...eu nao queria...nada fiz para que isso acontecesse...mas a verdade é que nada fiz para o evitar...eu caminhei...caminhei muito por sitios e misturei-me com pessoas...pessoas reais e normais... pessoas com passos certos e seguros pela rua…e desejei ser como eles….caminhar assim sem medo…sem perturbações….sem impedimentos…sem desesperos…sem dúvidas…caminhar apenas por caminhar…apenas porque se se tem pernas é para caminhar…segui-os…caminhei ao lado deles...assumi a mesma máscara que eles...e fui com eles até sítios reais preenchidos de situações normais…nada poderia falhar…se eu me observasse ao longe na multidão não me reconheceria…o disfarce era perfeito… mas, no entanto, não passava disso mesmo, um disfarce

segunda-feira, 7 de abril de 2008

O teu olhar já nada me diz...

O teu olhar já nada me diz…nem um gesto, nem um arrepio…
O vento da madrugada gelou a minha alma…e tento pensar que nunca estiveste aqui…
O teu olhar já nada esconde…
Enquanto caminho sem rumo pelo espaço nu de qualquer sítio que nem sei se é real, observo-te a caminhar ao meu lado sem razão aparente…
Esqueci os dias, as horas, os momentos que adormecerem em mim…morri das palavras ditas…dos caminhos percorridos…
O teu olhar já nada me diz…e diz-me tudo o que jamais podia ter dito antes…
Continuo sem saber se te vejo ou se crio a tua imagem em mim…continuo sem saber se te encontro ou se te procuro…continuo sem saber se falas comigo ou se permaneces aí no silêncio…
O teu olhar já nada me diz…
Percorro a noite, a madrugada que me devora…com a vontade de me desprender da minha pele…
Mas o teu olhar já nada me diz…e mesmo se ainda dissesse, eu já não estaria aqui para ouvir…fiquei parada naquele dia…naquele momento…
È inútil…desnecessário…o que faças ou digas…é inútil que me culpes e que eu me culpe…
O teu olhar já nada me diz…excepto esta tortura… esta culpa…que me persegue dia após dia…e grito agora, mesmo neste silêncio abrupto, que desejo caminhar agora sem mais olhar para trás…sem ver aquele momento vezes sem conta a acontecer…
O teu olhar já nada me diz…silenciei-o em mim…

quarta-feira, 19 de março de 2008

Mundo Permeável...

Criei um mundo para mim…mas era um mundo permeável…e a chuva e o vento vieram e destruíram-no…destruíram-no sem que tenha havido um momento em que ele resistisse…cedeu logo ali ás primeiras intempéries sem reagir…
É inútil lutar por algo que não luta por si só…
Naquele dia ao cair da tarde percorri aquela rua que ia dar ao sítio mais longínquo do meu imaginário…
Janelas e portas fechadas á minha passagem…e não encontrei a consistência da minha presença…
Vou de novo fazer com que o relógio pare nas 6 horas da tarde e esquecer que o tempo vai continuar de passar…

quarta-feira, 12 de março de 2008

O que eu era…uma ilusão…o que eu sou agora…uma criação…
Não somos sempre a mesma pessoa….a maior parte daquilo que somos é uma criação que dia após dia deixamos sair das nossas mãos…

terça-feira, 11 de março de 2008


É fácil para ti dizeres o que dizes aí a essa distância…e é mais fácil para mim ficar aqui apenas a ouvir-te ao longe sem dizer uma única palavra…
Eu sei que tu preferias que te acusasse…que te culpasse por tudo…mas é mais seguro para mim ficar aqui sem nenhuma reacção…
Eu não posso compreender-te…não sei talvez entender que por de trás da tua existência está algo mais…sinto-me cega na tua presença…
Eu quero que me abandones…que me desprezes…porque eu também te abandonei…e também te desprezei…na vida nada fica sem resposta…
Não preciso que inventes uma historia qualquer sobre um final feliz onde tudo se resolve…não preciso que te esforces para ocultar as palavras dolorosas…
Tu não me compreendes e eu não te compreendo…e a nossa vivência é vazia e infeliz…
Torturas-me por te ter deixado partir…sem nada dizer…e agora aí a essa distância consegues acreditar que as coisas podiam ter sido diferentes…
E eu agora aqui….bem longe de tudo…não quero voltar atrás…
Eu não sei onde estás agora…talvez não tenha coragem de te procurar com medo de te encontrar…
Tu não sabes onde eu estou agora…deixei escrito no vento daquele dia de verão o meu destino…mas não mais esse vento ousou vaguear perto de ti…
Não sabemos onde estamos…um dia ia a passar por uma rua qualquer sem nome ou memória e pareceu-me ouvir as nossas vozes…pareceu-me ver-nos até…sombras insistentes num cair da tarde monótono… depois pareceu-me ver-nos dissipar num sofro de inexistência…e se um dia voltares a esse sitio e, assim de mansinho conseguires vislumbrar-nos…assim distantes…quero que libertes essa imagem de ti e a deixes desvanecer-se no ar cru da realidade…

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Eu não sei se na verdade ainda te vejo aí…

Não é real…e quanto mais penso que não é real, mais real se torna
E quanto mais penso que não estou a viver isto…mas o sinto…

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008


Estou condenada a um desespero contínuo…a não encontrar as coisas que estão terrivelmente fáceis de encontrar …a desejar o infinito inimaginável…e a conquistar o vazio imensurável…

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Combinámos no sítio de sempre…á hora de sempre…
As horas passaram desenfreadamente …mas eu achei que o tempo tinha parado…
No final senti que aquele momento não tinha acontecido…que nós não tínhamos sequer existido…

A vida tal como ela é… terminou…não que tenha havido necessariamente um momento em que eu vi tudo o que existia desabar ali á minha frente, qual castelo de cartas…foi um processo gradual…dia após dia eu observei essa mudança…que culminou num dia em que me apercebi que todos os dias até àquele dia tinham acabado…tinham-se esgotado…eram poeira inútil acumulada no tempo…vi que tudo o que eu havia sido antes era apenas uma ilusão…um sonho que tive…mas nesse dia, sim… nesse dia a mentira forçou-me a encarar a verdade…a verdade pura da minha existência… e tudo o que ficara para trás......tudo fora uma miragem…

Sim…combinámos no sitio de sempre…na hora de sempre…mas o sitio de sempre já não era o mesmo…e a hora de sempre havia mudado

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Resoluções...

Eu sempre gostei de pensar que conseguia resolver as coisas… sempre achei que resolvia as coisas…mas quanto mais penso na resolução das coisas…menos as resolvo…a minha mente devora-me numa corrida desenfreada rumo ao delírio…e eu não resolvo as coisas…as folhas de papel amontoam-se pelo meu quarto…e não estão resolvidas…
De facto eu não resolvo nada…procuro apenas saciar-me com o prazer de coisas momentâneas… imediatas…e as coisas imediatas, são isso mesmo: imediatas…efémeras…
E as palavras…as palavras por si só não resolvem nada…não provocam frio nem calor…não param o trânsito…não molham…não queimam…são inúteis…
Os sentimentos…esses nem tentam resolver nada…acomodam-se a um canto como sacos velhos cheios de coisas que já não usamos…mas que teimamos em guardar porque um dia acreditamos que vamos precisar delas…
Eu gostava de resolver as coisas…fazer uma lista de tudo…e resolve-las uma por uma…e depois arranjar novas coisas para resolver…e viver para sempre neste ciclo de resoluções…mas iam haver sempre coisas por resolver…e eu ia ficar igual ao que estou agora…com coisas por resolver…
Afinal no que diferem as coisas resolvidas das coisas por resolver? O que decide se as coisas estão resolvidas? Ou se não estão?
Passei a tarde toda a pensar… e não pensei em nada…muito menos resolvi alguma coisa…

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Desassossegos apáticos

Dizer que estou bem…é o mesmo que dizer que estou mal…
Digo-o…e a vida continua…
A vida continua como gelo enfraquecido que derrete…
Se eu gritar bem alto na rua que estou mal…será que os carros vão parar?
E se eu gritar que estou bem…será que a chuva começa a cair do nada?
Ás vezes acho que estou a sonhar tudo isto…
Naqueles dias em que o vento teima em incomodar-me… e em que a luz do sol fere-me os olhos…nesses dias o chão do meu quarto parece que se está a afundar… e as paredes reflectem os meus gestos suspensos…e sou uma matéria vã…
Dizer que estou bem ou mal nesses dias…seria limitar todas as minhas emoções e sentimentos…
Falar ou permanecer no silêncio é irrelevante…nada do que eu diga vai alterar o curso dos dias…e o meu silêncio também, só por si nada faz…
Falar ou não dizer absolutamente nada…não diria que é a mesma coisa…mas, na sua essência, ambas as acções são de facto, inúteis…
O relógio da parede está parado há dias nas mesmas horas…e mesmo assim…o tempo continua irremediavelmente a passar …
Dei por mim a falar sozinha na rua a caminho não sei de onde…de que falava eu então?
Não sei…Não consegui ouvir-me…
Eu ficar ou partir …que diferença vai fazer?
Se eu ficar…vou acabar por me aperceber que nada posso fazer pelo quer que seja…não porque não hajam inúmeras coisas que pudesse fazer…mas sei á partida que nada irei fazer, porque, na verdade, prefiro não fazer absolutamente nada…
Se eu partir…acabarei da mesma forma por nada fazer…
As coisas estão mesmo onde não deviam estar…as cores estão trocadas…e os sons não fazem sentido… mesmo agora, neste preciso momento…sei que nada está na ordem correcta…as peças estão todas espalhadas pelo chão…e é tarde…muito, muito tarde para as apanhar…e colocá-las nos lugares certos…e mesmo que elas fossem colocadas no sitio certo…elas já não se saberiam relacionar umas com as outras…
Eu preocupar-me imenso ou não me importar nada…é a mesma coisa…
Se eu me preocupar mesmo a sério…se mostrar com muita força a grande preocupação que sinto será que tudo se vai resolver? Se as coisas seguirem a sua ordem, é obvio que não…tudo ficará igual…ou mudará…sem que a minha preocupação tenha qualquer tipo de interferência…
Se não me importar mesmo nada…é igual…as coisas e acontecimentos e pessoas e…tudo…o que tiver para mudar…mudará… e o que tiver que continuar…continuará…sem que nada, na sua grandeza ou insignificância, tenha alguma alteração drástica por eu não me importar…
Há dias em que fico perplexa a observar algo ao longe que reflecte toda a minha existência…mas depois dissipa-se…
As chamas arrefecem na margem enlouquecida da razão…e as estrelas sucedem-se num céu sem rumo…
Nada está sem remédio…ás vezes no silêncio, ainda me encontro repartida entre dias e noites…
O relógio está parado nas 6 horas…e não é que me importe, porque já nem isso me perturba, um dia ou outro…uma hora a mais…ou a menos….Que diferença fará?
Fechei todas as portas e deixo-as ficar fechadas…inertes…
Deixei a luz partir …
Vou e venho…Nada mais é certo ou errado…
E o vento que colhe agora a minha serenidade…é o mesmo que outrora me embalou em sonhos doces em noites distantes…
Dizer que estou bem ou mal…não faria agora qualquer diferença…

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Regressar a casa…
Porque quando regresso a casa, sou criança outra vez…respiro de novo o ar puro da liberdade…volto a ser livre….as estrelas são mais brilhantes outra vez…tenho de novo a alma limpa….

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Sinto necessidade a cada dia de fazer coisas que me façam sentir real…pequenas coisas como andar…abrir a janela…respirar…rodear-me de objectos que me transmitam emoções e sensações…que me liguem á realidade…preciso de me aperceber que adormeci…e acordei passadas umas horas…levantei-me… escolhi coisas para fazer durante as horas em que permaneci acordada…sou uma pessoa normal…e sigo nos dias…sigo na rotina… nada mais sendo do que normal…real…os outros vêem-me, falam comigo…e eu vejo-os e falo com eles…não há nada mais normal do que isto…quando entro numa casa…entro pela porta, não atravesso as paredes…quando ando pelas ruas…caminho…não voo…se está frio…eu sinto frio…se está calor…eu sinto calor…sou uma pessoa normal…então o que pode estar errado?

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Nunca te disse para onde ia…talvez no fundo soubesses…mas não te disse…
O vento leva-nos para longe por vezes…mas não tão longe o suficiente para que apaguemos de nós tudo o que ficou para trás…
E eu parti…com tantas dúvidas e tantas certezas…
Por vezes ainda nos encontramos no lugar de sempre…mas eu não te vejo e tu não me vês…caminhamos lado a lado pelas ruas…e jamais trocamos uma palavra sequer…
Eu sei que vais continuar…nunca pararás…mesmo que o peso da dor te fustigue por completo…
Não esperes por mim…eu mergulho agora na estranheza dos dias…
Não esperes por mim…fecho agora todas as janelas e portas que me abrem para a luz…para que te vás…
Não esperes por mim já não sei mais o que dizer …esgotei as frases…os pensamentos…e não disse nada…mesmo agora se tentasse…tudo continuaria na mesma…
Estou tão longe agora…tão longe que parece que tudo passou…tão longe que tudo o que foi, é agora um infinito de imagens intermitentes na minha memoria…
As folhas pouco a pouco espalham-se pelo chão…
caixas de nada fechadas em pequenas gavetas que não ouso abrir…
Os sons sucedem-se num estrondo de nada…estou estática…sem vida…
suspensa entre imensidões de tempo…
Não esperes por mim…quero ouvir os teus passos lá fora em tom de abandono…

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008


Abandonei-te e abandonaste-me…nada mais há a fazer…
Às vezes nem nos apercebemos como estamos obcecados...é como uma doença…mas chega o dia em que aquelas coisas que nós mais queríamos se transformam em simples fragmentos de poeira dos nossos pesadelos…flutuando na noite desenfreada…
Tu estás aí…e eu estou aqui…e entre nós, todo um vácuo de distâncias dispersas…
A nossa solidão não cabe no mundo…e a nossa vida é tremendamente vazia…
Não te encontro…não é que te procure…mas as vezes recordo os dias que acordavam em nós como púrpura caída levemente na seda…mas não te procuro…deixei de te procurar quando ainda te encontrava…
Nós éramos frágeis sombras esvoaçantes…e a nossa frieza era infernal…
Guardei os dias de liberdade…os dias de sonhos…mas vou enterrá-los para sempre…não preciso mais deles…
Dizer-te que tudo foi em vão, seria extremamente cruel...mas agora nada mais me importa…
Esqueci as últimas palavras…vejo-as apenas a pairar por aí no vento calmo do entardecer…
Vagueio ao longe sem rumo…perdida entre a nostalgia das horas…
Sim, agora nada mais me importa…agora os dias nada mais são que árvores mortas…



O Silêncio Do Espelho...

Imagina a tua vida…
Imagina o espelho partido…imagina-te a ver o teu reflexo em pedaços no chão…
Imagina o silêncio…
Imagina a escuridão…
Imagina a dor…
Imagina a solidão…
Imagina um dia que não acaba…um dia que morre numa noite povoada de estrelas mortas…
Imagina um grito…um grito que não se reflecte no espelho quebrado…
Imagina o silêncio do espelho…que dia após dia observa tudo sem nada fazer ou dizer…
Imagina o silêncio do espelho perante o teu sofrimento…perante as tuas lágrimas….
Imagina o silêncio do espelho que, inútil, tudo presencia sem nada sentir…
Imagina-te a ti….imagina este momento…este que está mesmo agora a acontecer…
Sentiste?
Imagina que este mesmo momento ainda não tinha acabado…teria sido diferente?
Imagina o silêncio do espelho que todos os dias te fita do outro lado testemunhando as tuas expressões e movimentos sem nunca demonstrar um único sentimento…uma mísera reacção
Imagina o silêncio do espelho…esse silêncio infernal…que mesmo depois de jazer ali no chão quebrado em pedaços…a única coisa que consegue fazer é reflectir a tua expressão de mágoa …
Imagina a indiferença do espelho, outrora preso imóvel na parede, perante a tua própria indiferença…
Imagina o silêncio do espelho… que todos dias permanece no seu pedestal estático de mundos contrários…

sábado, 12 de janeiro de 2008

Se ao menos...


Se ao menos houvesse mais a não ser este vazio...se ao menos viver fosse mais que esta existência sombria... se ao menos o tempo fosse suficiente...se ao menos nao fosse dificil acordar...se ao menos eu não tivesse já partido há muito...se ao menos ainda conseguisse voltar...
Havia uma alma dentro de mim em tempos...mas perdeu-se por aí nos recantos escondidos da vida...
A realidade em meu redor tornou-se irrelevante ,deixei de me importar com as coisas…para mim, é igual se o sol um dia nasce no lado contrário…
Sinto que estou diferente...e, no entanto, não me lembro de ter sido de outra forma antes...

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

A chuva quebra-se em mim...caminho sem destino...
Encontro-me então perdida num jardim de rosas adormecidas no chão....
Deito-me e fingo que estou a dormir...a vida não pode ser assim tão estranha...