terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Desassossegos apáticos

Dizer que estou bem…é o mesmo que dizer que estou mal…
Digo-o…e a vida continua…
A vida continua como gelo enfraquecido que derrete…
Se eu gritar bem alto na rua que estou mal…será que os carros vão parar?
E se eu gritar que estou bem…será que a chuva começa a cair do nada?
Ás vezes acho que estou a sonhar tudo isto…
Naqueles dias em que o vento teima em incomodar-me… e em que a luz do sol fere-me os olhos…nesses dias o chão do meu quarto parece que se está a afundar… e as paredes reflectem os meus gestos suspensos…e sou uma matéria vã…
Dizer que estou bem ou mal nesses dias…seria limitar todas as minhas emoções e sentimentos…
Falar ou permanecer no silêncio é irrelevante…nada do que eu diga vai alterar o curso dos dias…e o meu silêncio também, só por si nada faz…
Falar ou não dizer absolutamente nada…não diria que é a mesma coisa…mas, na sua essência, ambas as acções são de facto, inúteis…
O relógio da parede está parado há dias nas mesmas horas…e mesmo assim…o tempo continua irremediavelmente a passar …
Dei por mim a falar sozinha na rua a caminho não sei de onde…de que falava eu então?
Não sei…Não consegui ouvir-me…
Eu ficar ou partir …que diferença vai fazer?
Se eu ficar…vou acabar por me aperceber que nada posso fazer pelo quer que seja…não porque não hajam inúmeras coisas que pudesse fazer…mas sei á partida que nada irei fazer, porque, na verdade, prefiro não fazer absolutamente nada…
Se eu partir…acabarei da mesma forma por nada fazer…
As coisas estão mesmo onde não deviam estar…as cores estão trocadas…e os sons não fazem sentido… mesmo agora, neste preciso momento…sei que nada está na ordem correcta…as peças estão todas espalhadas pelo chão…e é tarde…muito, muito tarde para as apanhar…e colocá-las nos lugares certos…e mesmo que elas fossem colocadas no sitio certo…elas já não se saberiam relacionar umas com as outras…
Eu preocupar-me imenso ou não me importar nada…é a mesma coisa…
Se eu me preocupar mesmo a sério…se mostrar com muita força a grande preocupação que sinto será que tudo se vai resolver? Se as coisas seguirem a sua ordem, é obvio que não…tudo ficará igual…ou mudará…sem que a minha preocupação tenha qualquer tipo de interferência…
Se não me importar mesmo nada…é igual…as coisas e acontecimentos e pessoas e…tudo…o que tiver para mudar…mudará… e o que tiver que continuar…continuará…sem que nada, na sua grandeza ou insignificância, tenha alguma alteração drástica por eu não me importar…
Há dias em que fico perplexa a observar algo ao longe que reflecte toda a minha existência…mas depois dissipa-se…
As chamas arrefecem na margem enlouquecida da razão…e as estrelas sucedem-se num céu sem rumo…
Nada está sem remédio…ás vezes no silêncio, ainda me encontro repartida entre dias e noites…
O relógio está parado nas 6 horas…e não é que me importe, porque já nem isso me perturba, um dia ou outro…uma hora a mais…ou a menos….Que diferença fará?
Fechei todas as portas e deixo-as ficar fechadas…inertes…
Deixei a luz partir …
Vou e venho…Nada mais é certo ou errado…
E o vento que colhe agora a minha serenidade…é o mesmo que outrora me embalou em sonhos doces em noites distantes…
Dizer que estou bem ou mal…não faria agora qualquer diferença…

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Regressar a casa…
Porque quando regresso a casa, sou criança outra vez…respiro de novo o ar puro da liberdade…volto a ser livre….as estrelas são mais brilhantes outra vez…tenho de novo a alma limpa….

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Sinto necessidade a cada dia de fazer coisas que me façam sentir real…pequenas coisas como andar…abrir a janela…respirar…rodear-me de objectos que me transmitam emoções e sensações…que me liguem á realidade…preciso de me aperceber que adormeci…e acordei passadas umas horas…levantei-me… escolhi coisas para fazer durante as horas em que permaneci acordada…sou uma pessoa normal…e sigo nos dias…sigo na rotina… nada mais sendo do que normal…real…os outros vêem-me, falam comigo…e eu vejo-os e falo com eles…não há nada mais normal do que isto…quando entro numa casa…entro pela porta, não atravesso as paredes…quando ando pelas ruas…caminho…não voo…se está frio…eu sinto frio…se está calor…eu sinto calor…sou uma pessoa normal…então o que pode estar errado?

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Nunca te disse para onde ia…talvez no fundo soubesses…mas não te disse…
O vento leva-nos para longe por vezes…mas não tão longe o suficiente para que apaguemos de nós tudo o que ficou para trás…
E eu parti…com tantas dúvidas e tantas certezas…
Por vezes ainda nos encontramos no lugar de sempre…mas eu não te vejo e tu não me vês…caminhamos lado a lado pelas ruas…e jamais trocamos uma palavra sequer…
Eu sei que vais continuar…nunca pararás…mesmo que o peso da dor te fustigue por completo…
Não esperes por mim…eu mergulho agora na estranheza dos dias…
Não esperes por mim…fecho agora todas as janelas e portas que me abrem para a luz…para que te vás…
Não esperes por mim já não sei mais o que dizer …esgotei as frases…os pensamentos…e não disse nada…mesmo agora se tentasse…tudo continuaria na mesma…
Estou tão longe agora…tão longe que parece que tudo passou…tão longe que tudo o que foi, é agora um infinito de imagens intermitentes na minha memoria…
As folhas pouco a pouco espalham-se pelo chão…
caixas de nada fechadas em pequenas gavetas que não ouso abrir…
Os sons sucedem-se num estrondo de nada…estou estática…sem vida…
suspensa entre imensidões de tempo…
Não esperes por mim…quero ouvir os teus passos lá fora em tom de abandono…

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008


Abandonei-te e abandonaste-me…nada mais há a fazer…
Às vezes nem nos apercebemos como estamos obcecados...é como uma doença…mas chega o dia em que aquelas coisas que nós mais queríamos se transformam em simples fragmentos de poeira dos nossos pesadelos…flutuando na noite desenfreada…
Tu estás aí…e eu estou aqui…e entre nós, todo um vácuo de distâncias dispersas…
A nossa solidão não cabe no mundo…e a nossa vida é tremendamente vazia…
Não te encontro…não é que te procure…mas as vezes recordo os dias que acordavam em nós como púrpura caída levemente na seda…mas não te procuro…deixei de te procurar quando ainda te encontrava…
Nós éramos frágeis sombras esvoaçantes…e a nossa frieza era infernal…
Guardei os dias de liberdade…os dias de sonhos…mas vou enterrá-los para sempre…não preciso mais deles…
Dizer-te que tudo foi em vão, seria extremamente cruel...mas agora nada mais me importa…
Esqueci as últimas palavras…vejo-as apenas a pairar por aí no vento calmo do entardecer…
Vagueio ao longe sem rumo…perdida entre a nostalgia das horas…
Sim, agora nada mais me importa…agora os dias nada mais são que árvores mortas…



O Silêncio Do Espelho...

Imagina a tua vida…
Imagina o espelho partido…imagina-te a ver o teu reflexo em pedaços no chão…
Imagina o silêncio…
Imagina a escuridão…
Imagina a dor…
Imagina a solidão…
Imagina um dia que não acaba…um dia que morre numa noite povoada de estrelas mortas…
Imagina um grito…um grito que não se reflecte no espelho quebrado…
Imagina o silêncio do espelho…que dia após dia observa tudo sem nada fazer ou dizer…
Imagina o silêncio do espelho perante o teu sofrimento…perante as tuas lágrimas….
Imagina o silêncio do espelho que, inútil, tudo presencia sem nada sentir…
Imagina-te a ti….imagina este momento…este que está mesmo agora a acontecer…
Sentiste?
Imagina que este mesmo momento ainda não tinha acabado…teria sido diferente?
Imagina o silêncio do espelho que todos os dias te fita do outro lado testemunhando as tuas expressões e movimentos sem nunca demonstrar um único sentimento…uma mísera reacção
Imagina o silêncio do espelho…esse silêncio infernal…que mesmo depois de jazer ali no chão quebrado em pedaços…a única coisa que consegue fazer é reflectir a tua expressão de mágoa …
Imagina a indiferença do espelho, outrora preso imóvel na parede, perante a tua própria indiferença…
Imagina o silêncio do espelho… que todos dias permanece no seu pedestal estático de mundos contrários…

sábado, 12 de janeiro de 2008

Se ao menos...


Se ao menos houvesse mais a não ser este vazio...se ao menos viver fosse mais que esta existência sombria... se ao menos o tempo fosse suficiente...se ao menos nao fosse dificil acordar...se ao menos eu não tivesse já partido há muito...se ao menos ainda conseguisse voltar...
Havia uma alma dentro de mim em tempos...mas perdeu-se por aí nos recantos escondidos da vida...
A realidade em meu redor tornou-se irrelevante ,deixei de me importar com as coisas…para mim, é igual se o sol um dia nasce no lado contrário…
Sinto que estou diferente...e, no entanto, não me lembro de ter sido de outra forma antes...

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

A chuva quebra-se em mim...caminho sem destino...
Encontro-me então perdida num jardim de rosas adormecidas no chão....
Deito-me e fingo que estou a dormir...a vida não pode ser assim tão estranha...