quarta-feira, 29 de abril de 2009

Melancolia...

A minha vida tornou-se melancólica…como o primeiro dia de Inverno…o primeiro dia de chuva…e eu não sei é de mim…ou… nada mais importa…
Os dias já não passam como dantes…os momentos sucedem-se sem que eu me aperceba deles…nada sinto…nada faço…estaticamente permaneço numa agonia desacertada…
Salta! Tens que saltar!
Vou saltar…
Os dias estão suspensos…em vagas horas de equidade consciente…
As luzes da cidade estão enevoadas…sem brilho…os sons dos carros que transpõem a ruas por onde caminho, despertam-me para uma realidade que não quero aceitar…
Acorda! Tens que acordar!
Vou acordar…
Que frio é este que rompe a minha pele?
Mesmo agora que sol brilha no seu esplendor…e há calor na cara das pessoas que passam por mim…
E toda a minha existência se resume a esta hipotermia sem remédio…
Que sentimento é este que veio ressurgir a minha doce dormência?
Dorme! Tens que dormir!
Vou dormir…
Vagueio horas sem sentido por entre aglomerados de vozes mudas…de pedaços de vidas dispersadas por aí…fragmentos de sanidade que tentam irromper por entre o meu escudo protector…
Já não consigo pronunciar palavras…ou construir algum pensamento consciente…
Há ruídos descontínuos na minha cabeça que não me deixam raciocinar…
Pensa! Tens que pensar!
Vou pensar…
Há qualquer coisa nestes dias que me deixa embriagada em frustração…ou então não é dos dias…é de mim…

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Sabes…acho que nunca te disse…
Não…nunca te disse mesmo…
Muitas vezes tentei dizer-te…mas as palavras ficaram sempre retidas algures entre a realidade e a idealidade …
Eu sei que no fundo tu jamais poderias ouvir …mesmo que eu te tivesse dito…
Estamos sentados lado a lado naquele banco de jardim como antes…mas permanecemos em silêncio como dois desconhecidos que nada têm a dizer…quem passa por nós não imagina o quão longe estamos, apesar de os nossos corpos estarem muito próximos…quem nos vê ali…mudos…nem imagina o quanto há para dizer…o quanto ficou por dizer com o arrasto do tempo…o quanto vai sempre ficar por dizer entre nós…
Observo-te e é como se ali não estivesses…e na verdade não estás…
Até da minha própria presença duvido…
O que foi que aconteceu?
O que foi que o tempo fez de nós?
Ouves?
A tua mudez persiste como a chuva a entranhar-se no solo…
E repousamos nesta crueldade impermeável …como se o que existe se resumisse a isto…a esta dormência penosa…

E eu nunca te disse…e tu sabias que eu não te diria…
Vai...provocação deplorável...
Vai...

O teu sangue a escorrer pelo chão...
O meu reflexo no espelho…um espectro sem expressão…

Vai…ruído incessante…
Vai…
Que a noite venha e que tu te confundas nas sombras…
A tua pele em chamas no amanhecer…

Vai…condenação silenciosa …
Vai...

O teu corpo a jazer no túmulo do vazio…
E eu persisto…inerte…
A beleza deste momento…
A tua presença desvanece-se na decomposição da tua carne…
O fim…
O teu fim…o teu suave e doce fim…

A chuva cai…
E eu retiro-me silenciosamente…

sábado, 25 de abril de 2009

Indolência

Há pedaços de mosaicos partidos espalhados pelo chão…há uma destruição recente…iminente… há papéis rasgados com frases incompletas…há chamas apagadas em velas derretidas… há poças de água secas…há o vazio…há emoções escavadas em pontos negros sem retorno…há objectos intermitentes a vaguear na penumbra …há ecos de vozes incessantes a gritar remorsos …há um tempo e um espaço sem memória num vácuo absurdo de fragmentos de dias…e há isto…um gotejar de nada a penetrar pelas frestas das paredes… a espalhar-se pelo pó das noites entorpecidas …um adormecer moroso a apoderar-se da imensidão circundante… uma melodia silenciosa que abafa a realidade…