domingo, 23 de novembro de 2014

"All these thousands of miles later, all these different people I've been, and it's still the same story. Why is it you feel like a dope if you laugh alone, but that's usually how you end up crying? How is it you can keep mutating and still be the same deadly virus?"
                  Chuck Palahniuk, Invisible Monsters

                     

domingo, 27 de julho de 2014

É estranho e duro para mim ...estar aqui neste mundo de loucos onde tenho que estar a constantemente a resolver os problemas de pessoas ás quais não tenho qualquer afecto ...e pensar que a minha avó está  no hospital neste momento...
mas eu sou adulta agora...e acho que faz parte desta coisa de ser-se adultos...enfrentar as coisas más ...

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Por vezes é mais fácil mentir..fingir que não estamos cá.
E eu não estou mais cá. Permanece apenas o meu corpo..o meu espírito está longe. Assim tem de ser...estou em modo de sobrevivência...
Os meus dias estão cheios de pequenos/grandes azares. Coisas que, apesar de tudo, me “permitem” continuar a viver ...mas que me atrapalham a vida.
São pequenos acidentes de carro...são problemas de alojamento...são colegas de trabalho que vão embora...fazendo alterar o meu horário o tempo todo...e deixando-me sem nenhum dia de descanso.
Estou esgotada.
Eu só queria ter um trabalho normal. Horários certos. Dias de descanso certos. Mas ninguém me mandou vir para uma recepcão de hotel. Ainda por cima para um hotel que é uma desorganização em todos os sectores.
Cada dia que passa vejo-me mais sozinha no meu posto de trabalho e a cada dia que passa tenho mais tarefas e mais responsabilidades para as quais eu não sei se estava preparada.
Isto era suposto ser um estágio...era suposto ter mais formação...não ter que acabar por dar a formação que ainda devia estar a receber.
Mas, ninguém disse que a vida era fácil..muito menos a vida numa recepção de hotel...
neste momento apenas procuro uma forma de levar isto até ao fim e de conseguir sair deste mundo do turismo.
A minha vontade era fazer como os outros...desistir...uma dia de repente dizer “já não vou mais trabalhar”...não dar a cara..enviar mensagem ...como tenho visto aqui...
mas desistir seria demasiado fácil...seria encostar-me na minha zona de conforto...e eu não posso fazer isso...não desta vez...

Resta-me colocar-me em piloto automático e deixar os dias passarem..um atrás do outro...e ver até onde os limites do possível podem ir...

quinta-feira, 19 de junho de 2014

“I let it go...
 It’s like swimming against the current. It exhausts you.
After a while, whoever you are, you just have to let go, and the river brings you home.” 

Joanne Harris

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Eu queria ter um bilhete de volta no tempo. Queria poder retroceder a cada arrependimento. Mas estou presa dentro desta camisa de forças em que as minhas escolhas passadas se tornaram.  Não consigo imaginar o que poderia ter sido se a determinada altura eu tivesse mudado o rumo de tudo…resta-me apenas sonhar com o que poderia ter sido…e acreditar que isso era o mais certo para mim.
Queria adormecer esta noite, sabendo que amanhã eu estaria salva.  Mesmo que fosse salva para me perder logo a seguir.
Havia um caminho. Havia um caminho com muitas ramificações.
Havia um destino.
Às vezes temos que viajar sozinhos…às vezes temos que deixar a nossa bagagem do outro lado.
A vida não é rectilínea e temos que seguir para muitas direcções  ao longo da nossa vida.
Havia um caminho que eu tinha que seguir para perceber  que há mais para além daquilo que temos como certo…que há mais para além da nossa zona de conforto.
 Eu queria ser livre. Livre de todas as amarras. Ser livre. Voar. Para longe. Ir e voltar sem ressentimentos.
Gostaria de quebrar  barreiras. Ousar. Ser menos eu.
Havia uma solidão. Havia desanimo.

Não sei em que momento da minha vida eu escolhi a direcção errada  ou se toda a minha vida até agora nada mais foi que uma  sucessão de más escolhas e direcções erradas. 

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Eu sei que é fácil pensarmos que toda a gente está a viver melhor do que nós. Que toda gente se está a divertir e nós somos os únicos a passar um mau bocado. Eu sei que é mais fácil assim. 
Os meus dias sucedem-se a um ritmo muito lento...cada dia há novidades menos boas para o meu lado...como se o universo tivesse apenas ocupado em complicar-me a vida...
Vivendo assim é fácil pensar-se que o resto do mundo está bem e apenas nós estamos no fundo do poço...


sexta-feira, 6 de junho de 2014

Desabafos...

Estou a ter um dia mau." É um daqueles dias do mês..."  Mas ninguém se importa. Nem eu quero que se importem.Nem estou à espera de algum tipo de recompensa. Quero estar só no meu canto sem que me venham perturbar. Mas não é de todo possível..
Quem me dera estar em casa. Quem me dera ser criança e andar perdida em mil e uma brincadeiras.E não ter medo do futuro. E não odiar as pessoas.
Sim, eu odeio pessoas. Posso dizê-lo. Alguém que trabalha ou já trabalhou numa recepção de hotel sabe que facilmente se odeia pessoas. E não são só os clientes. São os colegas também.
Mas tudo isto porque eu não queria estar aqui. Mas ninguém tem culpa disto.
Nem sei se eu própria tenho culpa disto...
Estou a ter um dia mau. Não quero ter que sorrir e ser prestável.

domingo, 11 de maio de 2014

Efervescência


Algures no vácuo do tempo 
ficam os dias que eu não
vivi. Os dias presos 
numa anomalia dolorosa.
Algures entre o que passou
Fica o que eu não fui.
A existência inócua da realidade.
Por entre as pinceladas do
passado e do presente, há
um quadro por pintar.
Exposto num corredor longínquo
de uma galeria desconhecida.
E eu sou o pintor que nunca
pintou.
Sou a obra que nunca 
saiu da imaginação do artista cego.
Por entre tudo o que sou 
Eu sou tudo o que não sou.
Sou a voz enfurecida que 
clama num silêncio morto
Calma na calada da noite caindo.
Não sei para onde caminham 
os meus passos.
Ás vezes, em murmúrios,
Sinto-me em busca de uma fé
estranha.
Estranha para quem não 
quer crer no que está à sua volta.
Viro-me para os céus 
E aos céus brado.
Busco uma luz . Uma resposta. 
Como um prisioneiro inerte
no fundo de uma
jaula que um dia é liberto
e contempla a luz
pela primeira vez.
"...Eu era cego, e agora vejo..." 
Vejo...vejo
sem realmente ver.
Acordo de um pesadelo 
e nunca adormeci.
Para onde vamos quando nos sentimos perdidos?
Que fé é esta que nos sustém mesmo
na corda bamba? 
"...Poderão cair mil ao teu lado..."
Eu sento-me aqui nesta
rocha no ponto mais alto 
de onde se avista o longe e tudo
Eu sento - me e absorvo 
a génese.
O fim e o princípio de cada
vida. Eu sou todos aqueles 
que se sentaram nesta rocha  
e observaram mais alto e mais longe.
Eu sou os olhos 
e as pernas de todas 
as crianças que aqui
 brincaram. Eu sou a liberdade.
Eu sou tudo. Também
vezes há em que sou nada.
Se sou dia. Ás vezes 
sou apenas noite.
Sou o declínio. Sou a renovação.
Tenho em mim o sangue 
de todas as gerações 
que me antecederam.
Dói em mim a sua luta.
Dói em mim os seus corpos 
cansados.
Caem-me lágrimas de 
uma nostalgia absurda.
Saudade de um tempo
antes de mim.
Memórias do que nunca
vivi.
Ás vezes eu sou o tempo
que fugazmente nos
tira tudo.
E estou em toda a parte.  
E não sei de mim.

segunda-feira, 24 de março de 2014

O tempo e outros milagres

Às vezes que precisamos mesmo de um milagre.
Depois de termos tentado vários caminhos…voltamos ao lugar de onde partimos…sentamo-nos e observamos a encruzilhada que nos rodeia.
Não parece haver uma resposta. Então ficamos à espera; um dia após outro até que um daqueles caminhos nos pareça esse milagre.
Estaremos condenados a voltar sempre ao lugar de partida?
Estarei eu condenada a voltar sempre ao lugar de partida?
Há um momento da nossa vida em que claramente estamos perdidos. Perdidos à força de nos esforçar-mos tanto para nos encontrar-mos. Perdidos à força de andarmos às voltas em torno do nosso destino sem saber qual o sentido dos ponteiros do nosso relógio.
Há esse momento da nossa vida em que temos  que pegar nas pontas soltas de dias, noites..semanas…anos  passados... e pintar um quadro…um quadro de uma existência ascendente e descendente.
Um dia tens dezassete anos e sonhas imenso. Tudo pode acontecer ainda . O horizonte que se apresenta à tua frente parece dizer que tudo pode ser possível. Com dezassete anos, não tens medo do futuro. Não sentes o peso da tua idade nem o peso da idade das pessoas que mais amas. Tudo parece ser simples.
Um dia acordas de repente e tens vinte e sete  anos…dez anos passaram e apercebes-te que a vida não é nada do que julgavas ser. Estás só. Tens medo. Medo do presente…medo do futuro…e vives no passado…
Na história da minha vida, desde a infância até ao inicio da idade adulta, passando pela adolescência, nada mais fui do que um narrador ausente dos factos. Um mero espectador. Uma figura inútil que, de uma posição relativamente confortável ,observa a realidade sem interferir nela.
Creio que desde a minha infância já tudo estava estipulado. A minha pessoa já estava formada. Aquilo que eu sou hoje, foi algo que sempre aceitei, assumindo , à partida, que não havia nada a fazer. Eu estava condenada antes de ter sequer a noção de que poderia ser diferente.
É como se , no momento do nosso nascimento, alguém colocasse um carimbo na nossa alma que nos obrigasse a ser assim, independentemente de todas as situações e de qualquer esforço contrário da nossa parte.
Olhando para trás, agora, aqui, lembro-me  de pouco ou nada ter feito para mudar tudo aquilo que não me agradava.
O meu aspecto físico, a minha timidez, a minha formação académica, a minha relação com os outros..e tantas outras coisas…Sempre tive este maldito hábito de me acomodar às situações...
E eu pensava que o que precisava mais era de tempo…mas, na verdade, tempo era o que eu tinha de sobra…apenas o deixava passar por mim, sem o agarrar, acabando sempre por perdê-lo…
Não me apercebia dos dias..perdia-os a fugir da realidade…não sentia as noites…perdia-as a flutuar em sonhos vagos…E, pouco a pouco, eu já não sentia nada…excepto aquela apatia a entranhar-se em mim cada vez mais …e a minha solidão era por vezes sufocante…
E o que eu achava que precisava mais era de tempo…tempo para encarar a realidade…tempo para cicatrizar as feridas e apaziguar a dor…tempo para dizer e fazer tudo o que queria…tempo para ir onde nunca fora…tempo para ganhar coragem e enfrentar a verdade…tempo para me libertar do passado…tempo para sair do meu esconderijo e olhar a claridade de frente…
Mas o tempo, esse, eu acabava sempre por tê-lo em excesso…mas, todavia, eu continuava a chegar a parte alguma. Continuava presa numa confusão de momentos sem sentido…
Se ao menos tempo fosse o que eu mais necessitava…!
E o que eu mais necessitava na realidade, era apenas de me encontrar…mas eu estava sempre tão longe…perdida por aí à minha procura…

quinta-feira, 20 de março de 2014

Pelos dias dos dias,
os sonhos enclausurados 
na rigidez. Noites de 
dias sem horas.
Minutos num tempo
que perdura para sempre
por além. Fronteira
da sanidade. Despertar
feroz numa sombra.
Luz. Lucidez. Luta. Labirinto
de peças soltas.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Linhas Obscuras

Algumas linhas obscuras  são paralelas à nossa casa.
O vento traz um sentimento de fúria num vendaval
de folhas e nadas.
Algumas linhas obscuras correm nas nossas veias.
Como sangue fervilhante no auge de uma batalha.
Há uma tempestade que se acolhe a nós.
Destroços de uma bomba que impludiu.
Algumas linhas obscuras são correntes de água turva.
Corpos cegos em procissão.
Há um terror na minha sombra.
Passos de velcro na esquizofrenia da solidão.
Algumas linhas obscuras são cordas de enforcados.
Condenação vã da alma doente.
Há por vezes uma hora que não passa.
Asilo de uma dor vulgar.
Algumas linhas obscuras são pedaços de sonhos.
Praias em maré vazia.
O murmúrio de um povo cala uma voz rígida.
O chamamento perturbado de uma geração amórfica.
Algumas linhas obscuras são  clarões e parecem  cegar-nos de luz...