terça-feira, 29 de setembro de 2009

Havia um tempo...

Havia um tempo em que eu sorria ao ver uma estrela cadente. Sorria e pedia um desejo.
Acreditava que a vida era simples. Feita de estrelas cadentes e desejos realizados.
Havia um tempo em que eu não tinha ainda atingido a superfície da realidade, andava dispersa em ilusões e esperanças no mais profundo da minha inocência. Era criança.
E não conseguia ser mais nada. Era feliz. Tinha pessoas felizes á minha volta. Os dias eram grandes, e neles cabiam todos os meus sonhos.
Havia um tempo em que nada importava. Apenas o presente. As decisões não definiam uma vida. Tudo era momentâneo e encantador.
Depois não sei o que aconteceu, eu mudei. O mundo á minha volta mudou. Mudaram os lugares, as pessoas, e os dias ficaram mais curtos e até as estrelas desapareceram do céu, ou eu comecei a esquecer-me de olhar para elas.
E alguém me disse que eu crescera. E haveria de continuar a crescer. E não havia nada que eu pudesse fazer. Era um processo fustigante e completamente irreversível.
Implicava mudanças. Á minha volta e em mim. E eu aceitei essa situação. E o tempo passou. Eu fui passando com ele. E vendo-o passar. A deixá-lo passar.
Pouco a pouco deixei de reconhecer a pessoa que me olhava no outro lado do espelho.
A distância aumentou. As caras á minha volta mudaram uma e outra vez...em chegadas e partidas... dia após dia fui-me perdendo em constantes metamorfoses e quase nem me dei conta disso…
Hoje sei que a vida não é feita de sonhos. E já não olho tanto para o céu e por isso já não vejo estrelas cadentes.
Mas se vir alguma, tenho a certeza que vou sorrir - um sorriso que me vai levar de volta a casa, á infância, á inocência… - e, claro vou pedir um desejo...

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Cansaço

Estou cansada. Um cansaço interno. Nos ossos. No sangue Na pele. Na consciência.
Um cansaço que se arrasta e permanece.
Estou cansada de ser …todos os dias.
Cansada de saber…todos os dias.
Cansada de acreditar…todos os dias.
Cansada de pensar…todos os dias.
Cansada de ser eu…todos os dias. Cansada de ver o meu reflexo no espelho.
Cansada da realidade e da idealidade. Cansada do meu mundo e do mundo lá fora.
Cansada da rotina e da não rotina.
Cansada de mudar e permanecer na mesma.
Cansada de andar e não sair do mesmo lugar.
Cansada das palavras. Das frases. Cansada do silêncio.
Hoje acordei cansada. E faça o que fizer, continuarei cansada.
Combustão. Sistemática.
O mundo em pedaços visto através de um vidro de uma janela de um carro.
É noite.
Não estou a ir. Estou a voltar.
Estou virada do avesso. Uma peça retirada do seu espaço.
Este é o momento em que percebo que a vida é isto. Nada mais.
Há um sentimento incómodo. Há silêncio. Em excesso. Há calma. Em excesso.
A escuridão e a luminosidade na noite em simultâneo sinalizam uma tempestade iminente.
E eu sei. Sou cúmplice. Sei que está próxima.
Que poderia eu fazer para a impedir?

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

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Dias vazios. Ilusões perdidas em horas ociosas. A desocupação acumula-se nas estantes. Nos vidros das janelas. Os ponteiros do relógio movem-se num compasso moroso. Sente-se o tempo a passar. Sente-se nos objectos. No ar. Em mim.
Sente-se o tempo a passar…e não passa…

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Talvez te tenha dito muitas coisas. Algumas vezes. E poucas coisas. Imensas vezes.
A verdade surge crua na minha frente. Não sei como alterar esta inabalável presença de dias. Momentos. Serenidade. Desordem. Renovação.

Tu não és mais a mesma resposta. Não tenho mais as mesmas perguntas.

Tu não és mais a resposta que eu procuro. Mudei as minhas perguntas.

Voltei atrás imensas vezes. Vezes demais, eu sei.
Destruí tudo o que havia construído vezes sem conta.
Mas agora recomeço em branco. Recomeço de um nada desprovido de tudo.

sábado, 19 de setembro de 2009

Agora, enquanto espreito pela janela para o mundo que se apresenta lá fora, sinto que há um tom de despedida no sol que vem a nascer, nas cores do dia que cresce na imensidão…
É o fim.
É o inicio.
É.
Não é.