segunda-feira, 24 de março de 2014

O tempo e outros milagres

Às vezes que precisamos mesmo de um milagre.
Depois de termos tentado vários caminhos…voltamos ao lugar de onde partimos…sentamo-nos e observamos a encruzilhada que nos rodeia.
Não parece haver uma resposta. Então ficamos à espera; um dia após outro até que um daqueles caminhos nos pareça esse milagre.
Estaremos condenados a voltar sempre ao lugar de partida?
Estarei eu condenada a voltar sempre ao lugar de partida?
Há um momento da nossa vida em que claramente estamos perdidos. Perdidos à força de nos esforçar-mos tanto para nos encontrar-mos. Perdidos à força de andarmos às voltas em torno do nosso destino sem saber qual o sentido dos ponteiros do nosso relógio.
Há esse momento da nossa vida em que temos  que pegar nas pontas soltas de dias, noites..semanas…anos  passados... e pintar um quadro…um quadro de uma existência ascendente e descendente.
Um dia tens dezassete anos e sonhas imenso. Tudo pode acontecer ainda . O horizonte que se apresenta à tua frente parece dizer que tudo pode ser possível. Com dezassete anos, não tens medo do futuro. Não sentes o peso da tua idade nem o peso da idade das pessoas que mais amas. Tudo parece ser simples.
Um dia acordas de repente e tens vinte e sete  anos…dez anos passaram e apercebes-te que a vida não é nada do que julgavas ser. Estás só. Tens medo. Medo do presente…medo do futuro…e vives no passado…
Na história da minha vida, desde a infância até ao inicio da idade adulta, passando pela adolescência, nada mais fui do que um narrador ausente dos factos. Um mero espectador. Uma figura inútil que, de uma posição relativamente confortável ,observa a realidade sem interferir nela.
Creio que desde a minha infância já tudo estava estipulado. A minha pessoa já estava formada. Aquilo que eu sou hoje, foi algo que sempre aceitei, assumindo , à partida, que não havia nada a fazer. Eu estava condenada antes de ter sequer a noção de que poderia ser diferente.
É como se , no momento do nosso nascimento, alguém colocasse um carimbo na nossa alma que nos obrigasse a ser assim, independentemente de todas as situações e de qualquer esforço contrário da nossa parte.
Olhando para trás, agora, aqui, lembro-me  de pouco ou nada ter feito para mudar tudo aquilo que não me agradava.
O meu aspecto físico, a minha timidez, a minha formação académica, a minha relação com os outros..e tantas outras coisas…Sempre tive este maldito hábito de me acomodar às situações...
E eu pensava que o que precisava mais era de tempo…mas, na verdade, tempo era o que eu tinha de sobra…apenas o deixava passar por mim, sem o agarrar, acabando sempre por perdê-lo…
Não me apercebia dos dias..perdia-os a fugir da realidade…não sentia as noites…perdia-as a flutuar em sonhos vagos…E, pouco a pouco, eu já não sentia nada…excepto aquela apatia a entranhar-se em mim cada vez mais …e a minha solidão era por vezes sufocante…
E o que eu achava que precisava mais era de tempo…tempo para encarar a realidade…tempo para cicatrizar as feridas e apaziguar a dor…tempo para dizer e fazer tudo o que queria…tempo para ir onde nunca fora…tempo para ganhar coragem e enfrentar a verdade…tempo para me libertar do passado…tempo para sair do meu esconderijo e olhar a claridade de frente…
Mas o tempo, esse, eu acabava sempre por tê-lo em excesso…mas, todavia, eu continuava a chegar a parte alguma. Continuava presa numa confusão de momentos sem sentido…
Se ao menos tempo fosse o que eu mais necessitava…!
E o que eu mais necessitava na realidade, era apenas de me encontrar…mas eu estava sempre tão longe…perdida por aí à minha procura…

quinta-feira, 20 de março de 2014

Pelos dias dos dias,
os sonhos enclausurados 
na rigidez. Noites de 
dias sem horas.
Minutos num tempo
que perdura para sempre
por além. Fronteira
da sanidade. Despertar
feroz numa sombra.
Luz. Lucidez. Luta. Labirinto
de peças soltas.