terça-feira, 27 de abril de 2010

"Que horas seriam, se eu lhe pudesse perguntar?"

Às vezes não nos apercebemos das coisas. Às vezes esquecemo-nos muito depressa. Demasiado depressa.
E esquecemo-nos imensas vezes, que ainda não esquecemos.
Fotos apagadas. Livros escondidos nas estantes. Segredos guardados em gavetas fechadas há muito.
Multiplicam-se dias. Há tempestades eminentes em ruas desertas duma cidade qualquer. Podia ser desta cidade. Podia ser de hoje. Podia ser agora.
Mas não é.
Esqueci tanta coisa que já não sei o que esqueci realmente.
Mas não me esqueci. Apenas, ocasionalmente, me esqueço de que ainda não esqueci.
Para onde foste naquele final de tarde de Setembro há muito perdido no tempo e no espaço?
Quantos anos passaram?
Não sei bem ao certo já. E outras vezes parece que não passou tempo nenhum.
Voltei lá imensas vezes. Ou talvez nunca de lá tenha saído realmente. O meu tempo ficou encerrado lá.
Dou por mim constantemente naquela rua, naquele final de tarde.
E tudo acontece sucessivamente sem que eu tenha algum poder sobre os acontecimentos.
E eu sei que continuas a ir. Assim como eu continuo a ir. Tudo tem sempre o mesmo fim. Não consigo lutar contra a irreversibilidade da realidade.
Não sei ao certo onde estou, quando não estou lá.
Não sei para onde vou quando de lá regresso.
Fechei-te de mim num espaço recôndito da minha existência, mas continuo a deparar-me com a tua presença nos lugares de qualquer lugar.
Reinventei a minha realidade para que não guardasse mais remorsos que ficara para trás. Mas a minha realidade tornou-se demasiado irreal e frágil. A armadura teima em cair. Fico desnudada perante a multidão. Não posso fugir com os mesmos passos que me trouxeram para aqui. Fujo com outros que não me levam muito longe.
Às vezes digo-te… palavras. Mas são sempre as erradas.
Mas não importa mais. Nunca importou. As minhas palavras para ti são silenciosas…como silenciosa é agora a tua presença em mim.
Às vezes dou por mim a perguntar onde estás. E sei perfeitamente onde estás. E é precisamente sabe-lo que me atormenta.
E se…?
Sabes…e se na verdade eu tivesse escolhido outra direcção? Feito outra escolha qualquer?
E se …a tua existência fosse paralela á minha?
E se eu tivesse te encontrado antes do antes que nunca foi?
E se a tua imagem fosse mais que poeira da minha memória?

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Noites sem fim. E muito curtas.

E eu. E o mundo. Eu separada do mundo.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Na escuridão…ela permanece…

Chove impetuosamente.
Chove impetuosamente sobre toda a sua pele, mas ela não ousa mover-se.
Se ao menos ela conseguisse sentir as gotas gélidas de chuva a penetrar a sua carne…como lâminas bem afiadas…
Mas ela já não sente nada.
Tempos houve em que ela chorava…em que ela gritava…em que ela sofria…
Agora ela apenas observa.
Ela sabe que podia andar…que podia simplesmente andar… ou mesmo correr.
Ela podia sair da escuridão…e da chuva torrencial…e procurar um abrigo.
Mas ela permanece lá. Quieta. Silenciosa. Apática.Ela sabe, no entanto, que a vida é repleta de possibilidades…de escolhas…
E ela fez apenas a sua escolha. E é uma escolha tão plausível como qualquer outra.

A indulgente existência dos perdidos.

Se não sabemos do que andamos á procura…o mais provável é nunca nos apercebermos das coisas que encontramos. Tudo é bom, e tudo é mau.

Quando andamos muito tempo sem rumo, tudo é igual. É-nos indiferente o que nos vai surgindo pelo caminho. Algumas vezes encontramos coisas que nos prendem por uns tempos e acreditamos que possa ser aquilo que procuramos…mas na maioria das vezes somos foragidos do tempo.
Deslocamo-nos sem direcção…por aqui e por ali…sem qualquer emoção em relação a nada nem ninguém…tudo são apenas elementos aleatórios dos cenários que vamos encontrando…
Quando andamos sem rumo há imenso tempo, podemos transmitir para os outros a impressão de que aceitamos tudo passivamente…que não temos quaisquer vestígios de vontade própria…aceita-se tudo, de facto…sem dar muita… ou até nenhuma luta… e deixa-se estar…sem nada se dizer…sem se estabelecer uma posição…


É deprimente se pensarmos bem.
Mas a verdade é que não se pensa bem. Não se pensa, nem se age

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Se vos pudesse dar um bom conselho de sobrevivência, diria para nunca procurarem sabedoria na vida…tentem ao máximo não ser inteligentes.

A inteligência fractura severamente a razão. O conhecimento pode-se tornar um inimigo tremendamente fatal.