segunda-feira, 30 de abril de 2007

Horas de desespero...


Horas desesperadas...
estas em que estou aqui..e não sinto a minha presença...
em que me observo...e não me consigo ver...
em que persigo a minha sombra...e não me consigo alcançar...
Estou longe...
Não estou aqui...
Nunca estive...
Talvez nunca consiga estar...
Vejo-me agora...distante... envolta na névoa...
Olho-me ao longe...saciada em solidão...sou um fragmento de ilusões...
E quanto mais me olho...mais sei que não sou real...
Não me sinto...
Não sinto o peso da realidade na minha alma adormecida...
Não sinto esta dor que me corrói...
Horas desesperadas...
estas em que procuro por mim...

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Viciei-me na solidão dos dias que passam devagar...das longas noites de insónia...

E eu pensava que o que precisava mais era de tempo...mas tempo era, na verdade, o que eu tinha mais...tinha tempo até em demasia...apenas o deixava passar por mim sem o agarrar... e acabava sempre por perde-lo...Não me apercebia dos dias...perdia-os a fugir da realidade...não sentia as noites...perdia-as a flutuar em sonhos vazios...E pouco a pouco, eu já não sentia nada...excepto aquela apatia a entranhar-se em mim cada vez mais...e a minha solidão era sufocante!
E o que eu achava que precisava era tempo!
Tempo para encarar a realidade...tempo para as feridas cicratizarem e a dor passar...tempo para dizer tudo o que queria dizer...para ir onde nunca fora antes...tempo para ganhar coragem e encarar as verdades...tempo para deixar o passado para trás...tempo para sair do meu esconderijo e enfrentar a claridade...Mas o tempo acabava por me sobrar...mas eu continuava a não chegar a parte alguma...continuava presa numa confusão de momentos sem sentido...
Se ao menos tempo fosse o que precisasse mais...se ao menos me bastasse um dia para mudar tudo...se ao menos eu tivesse a força para abraçar o tempo...para o guardar em mim...e deixá-lo levar-me para onde eu quero ir...

Levaste-me contigo...

Matei-te...
Deixei-te ir simplesmente...
Não te vi olhar para trás...não senti o teu desespero a aumentar...
Matei-te...
Permiti que te afastasses...
E dói demais esta verdade...
Pesa-me demais o teu sangue na minha pele...
Fere-me demasiado esta lâmina na minha carne...
Sufoca-me demais o teu último fôlego...
Ficou demasiado escuro agora que os teus olhos se fecharam....
Quero gritar...mas não há mais voz...

Vejo-te a morrer uma vez mais...
o teu corpo caído a meus pés...e depois a flutuar na minha memória...
e depois olhas para mim...o teu olhar condena-me mais e mais...
E eu afasto-me...tento-te esquecer...mas estás sempre lá...
Chamas-me por entre as sombras da eternidade...

No fundo sei que podia ter mudado tudo...que podia ter-te impedido de partir...que podia ter dito que acreditava em ti...que não estavas a elouquecer...
E estavas tão certo...sempre estiveste...

E quando naquele dia te vi ali... caído no chão...desejei que aquele corpo sem vida fosse meu...
Se ao menos me tivesses dado tempo para te compreender...mas não tinhas esse tempo...não podias esperar mais...

E no fundo somos loucos...e a nossa loucura destrói-nos...destrói a nossa realidade...Somos loucos por não conseguir aceitar a realidade...

E agora que partiste...sei que estou a louquecer cada vez mais...

terça-feira, 10 de abril de 2007

Vazio de sombras esquizofrénicas...


E soube que eras apenas um sonho...no dia em que te tentei tocar e desapareceste no vento...
Soube que o teu sorriso era somente uma ilusão...no momento em que ele se diluiu na névoa...
Senti que o bater do teu coração não era real, quando o seu som se inundou na escuridão...
Percebi que eras apenas uma construção do meu imaginário...na noite em que te vi no escuro...e os teus olhos brilhavam como pequenas chamas queimando a noite...e os teus pés não tocavam o chão...e todo o teu corpo não agarrava a realidade...

E soube que eras apenas um pedaço de poeira dos meus sonhos...quando as tuas mãos me tocaram e senti o vento e a chuva...senti o brilhar das estrelas e a tempestade...
Senti a tua desfragmentação, no momento em que a tua voz atingiu o infinito...e as tuas palavras se transformaram em pedaços de luar...
E soube que não pertencias a parte alguma...e na verdade permanecias em todos os sitios onde eu estava...eras um segredo escondido...preso na eternidade de uma noite sem fim...
E quando vi que não eras real...tive a horrivel sensação de eu própria não existir...de tudo á minha volta ser apenas um vazio de sombras esquizofrenicas...senti-me rodeada da tua presença...e no fundo estava tão só...vi a tua imagem...ouvi a tua voz...senti-te a caminhar perto de mim...mas olhei para trás...e não estava lá ninguém...

E ali estava eu...como uma flor adormecida num túmulo...
a dissipar-me num véu de sonhos desfeitos...
a perder-me das luzes da realidade...
E depois não sei no que me transformei...
fui o vento gélido do anoitecer...
fui a chuva desesperada caindo sobre as velas...
fui a solidão dos ciprestes acordados na tempestade...
fui por fim a pedra fria do teu jazigo...
aquela que fere a eternidade como a tua memória...

Horizontes quebrados...

Pedaços de um sonho adormecido espalhados pelo vento...
susurros de um dia longínquo onde o tempo parou...
Música...vozes...dor...lágrimas...

uma imensidão de olhares que me ferem...
E depois o silêncio...o anoitecer...
a sombra de um momento distante...

E sou eu que fico aqui
perdida nestes momentos em que se quebram
os horizontes de sensatez...
Sou eu o barco que navega
no mar tempestuoso e frágil...
E és tu quem noite após noite faz crescer a tempestade em mim...
e sou eu que que fujo mais e mais do lugar onde estou presa...