quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A posse

Dizem que “as coisas que possuímos acabam possuindo-nos”…sem dúvida que é verdade…mas as coisas que não possuímos, conseguem nos possuir de uma forma mais intensa.

As coisas que possuímos, conseguem dominar-nos imenso…tornando-nos escravos delas…nada a fazer…mas, no entanto, as coisas que já temos acabam por se tornar banais ao fim de algum tempo, e depois deixam de nos interessar tanto e, eventualmente, acabam por perder o significado total para nós.
Mas as coisas que não possuímos…e que desejávamos imenso possuir…e são difíceis ou até impossíveis de conseguir…essas sim…apoderam-se imenso de toda a nossa existência…entranham-se no nosso olhar…penetram no mais profundo do nosso cérebro…perfuram a nossa pele…fazem estragos na nossa realidade.
Primeiro surgem apenas num pensamento mais regular que todos os outros…depois começam a ocorrer constantemente na nossa cabeça…sempre ali a chamar a atenção…enquanto tentamos ignorar os seus estímulos…depois tornam-se vírus…tumores…obsessões…
Há uma fase em que conseguimos viver com isso…conseguimos estabelecer uma relação racional com essas obsessões…um dia apercebemos que se torna difícil controlar as situações…como se estivéssemos possessos por uma força sobrenatural…
O resto é dispensável …nada mais importa…a nossa vida pode estar perfeita…que não nos interessa…porque nos falta algo…falta sempre algo…mesmo que seja algo que efectivamente não traria nenhuma melhoria na nossa vivência…mas que mesmo assim nós acreditamos que, tendo aquilo, seríamos imensamente felizes.
Possivelmente, conseguimos atingir algumas das nossas obsessões…que depois prosseguem o seu ciclo na nossa vida, e acabam por nada ser no final…
Mas há sempre as coisas que nunca conseguiremos ter…seja porque eram demasiado absurdas para as atingirmos, seja porque não tentámos o suficiente obtê-las, ou porque…enfim…não tinha que ser…”não se pode ter tudo”…e essas irão possuir-nos para sempre…caminhando ao nosso lado dia após dia…e, ironicamente, serão, de certa forma, sempre nossas…precisamente pelo facto de nunca as termos possuído…

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