segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A artificialidade do “eu”

Sabes, eu não sou mais a pessoa que conhecias.

Se me pudesses ver agora talvez nem soubesses mais quem sou.
Sem me encontrasses na rua provavelmente passarias por mim sem me notar.
A vida transfigura-nos imenso…eu sempre o soube…e, no entanto sempre assumi uma atitude pacífica em relação a isso.
Não sou mais a pessoa que tu acreditavas que eu era. Que querias acreditar que eu era.
Não sou mais a pessoa que eu acreditava que era. Que queria acreditar que era.
Sinto-me uma estranha em mim…na minha pele…
Desconheço o mundo pela minha perspectiva.
Discordo de mim própria em imensas coisas.
Contradigo-me …vezes sem conta…tentando encontrar alguma forma de autocontrolo no meio de todo o caos…
Sabes, às vezes vemos pessoas e lugares que não estão lá…vivemos dia-a-dia condenados a esta realidade esquizofrénica.
Suponho agora que tinhas razão…um dia ia acabar por me desencantar com a vida… ou a vida iria acabar por se desencantar comigo. Aconteceram as duas situações quase em simultâneo.
Se existe realmente um dia em que…pronto…assumimos a derrota…hoje é esse dia para mim…
Do que é que eu estava á espera afinal?! Já o podia ter feito há imenso tempo…podia e devia…
Mas parece que nunca queremos assumir a derrota sem ter nunca na verdade lutado…mas…sim…não lutar é essa, claramente, a derrota…
Quero que saibas que admito que a culpa é minha. Aceito isso sem apreensão alguma.
E sou tão culpada até na forma de viver tudo isto…amanhã talvez acorde e nada mais disto tenha sentido…percebes? Amanhã de repente posso voltar a encantar-me com a vida…e assim permaneço… numa constante sucessão alternada de amnésia momentânea…
Eu devia manter um padrão…não devia?
Eu devia ser regular…assumir a derrota e pronto…encerrar tudo…fechar as portas para quaisquer outros momentos…eu devia…rejeitar, de uma vez, a realidade…a esperança…devia me cansar de renovar o equilíbrio…as forças…a harmonia…
Depois espera-se um novo ciclo de total frustração…
Eu devia, de uma vez por todas…escolher um lado…ser uma coisa e não outra…
Esta dicotomia do meu “eu”…esta artificialidade da minha existência...deixa-me sem saber quem sou eu…se sou…ou se já não sou mais…mas provavelmente já não sou…

2 comentários:

Anónimo disse...

Não será a primeira nem a ultima vez que esse encanto se perderá e ganhará. Essa é uma das constantes certas da nossa vida. E não são apenas as pessoas que não têm mais nada em que pensar que pensam nisso. Toda a gente chega a uma altura que avalia a sua vida e sente que naquele momento nada faz sentido. Que essa não foi a vida que escolheu. Mas tal como já tínhamos falado, agora posso pensar de certa forma e escrever um texto ultra-deprimente e, amanhã, quando acordar, não me vai dizer nada. Nem o vou sentir. Assim se vê como as nossas ideias, pensamentos, sentimentos e afins melancólicos são efémeros. Estão sempre a mudar. Lentamente, por pequenos momentos da nossa vida, ou rapidamente, pelos grandes acontecimentos. É desta forma que o ser humano cresce.
Como já reparaste adorei o texto :D
Bjs
GB

RR disse...

Eu continuo o comment anterior: além de poderes acordar amanha e tudo ser diferente. É nesses momentos que contamos com as pessoas que mais amamos, por vezes nem sequer precisamos de lhes pedir ajuda ou conselhos, basta a presença deles, basta um passeio, uma gargalhada, um jantar. Por vezes um pouco de amizade, amor, alegria vindos destas ocasioes do nada provocam novas razoes na nossa existencia... era isso que eu gostava que tu descrobrisses um dia.. e é por isso que eu gosto de ti, é esse o amigo que eu quero ser para ti, tentando ver que tu tens mil e um motivos pa sorrir e lutar por tudo. Mas quero que descubras isso por ti...nao quero que feches as portas e janelas às coisas boas da vida que te fazem "sentir", que te fazem a "pele de galinha" que te deixam de cabeça no ar pelas boas razoes.

Beijao
RR