quinta-feira, 22 de outubro de 2009

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Estás perdida. Acabada.

Todos os dias acordas no mesmo sítio, da mesma forma.
Estás presa numa rotina que não é a tua, mas na qual entraste por acidente e agora da qual não consegues sair.

As medicações acumulam-se.
Cada vez mais fortes. Cada vez mais mortíferas.

Psiquiatria sala à direita. Suicídio sala à esquerda.


Sobrevives. Tentas sobreviver, fugindo da sobriedade dos dias.

As garrafas sucedem-se…uma após outra…vazias.


Terapia sala à direita. Suicídio sala à esquerda.


Queres partilhar connosco a tua história?
Nós ajudamos-te.
Só tens que falar.

Não funciona.

Mais um dia. Mais um fracasso.

A comida não tem sabor. Já não a sentes. Já mal consegues mastigar. Nem dormir. As tuas funções vitais estão a deteriorar-se.

Hospital à direita. Suicido à esquerda.

Há pessoas a chamarem-te.
Ouves?
Provavelmente não ouves. Ou se as ouves preferes ignorá-las.
São apenas ruídos longínquos e absurdos que tentam irromper o teu delírio.

Fala. Diz o que sentes. O que vês que os outros não vêem.
Conta. Expõe o quão doente és. Todos vão querer ouvir-te. E ajudar-te.
Vai correr tudo bem.

Psiquiatria sala à direita. Suicídio sala à esquerda.


A loucura é a única coisa que torna a vida interessante, porque transfigura-a.
Disfarça-a. Suaviza-a.



Enchem-te a cabeça de ideias. Dogmas. Crenças, cuja única função é manipular-te e privar-te de quaisquer hipóteses de livre arbítrio.

A tua alma está impura. As tuas mãos também. Todo o teu corpo.


Confissão sala à direita. Suicídio sala à esquerda.

Fala. Confessa tudo. “A verdade libertar-te-á.”
Deixa o bem prevalecer sobre o mal.
Só assim poderás ser perdoada.


És inconsequente. Inconsciente. Absurda. Desequilibrada.
Vives num mundo à parte que criaste para te proteger da realidade, mas agora os monstros que alimentaste na tua cabeça, estão cheios de vontade de te devorar.

Precisas de dormir. Meses.
E no entanto, não consegues acordar.

Estás sozinha. Completamente sozinha.
Pensavas que não?!

Como podes ser tão cega?

Tentas sair. Há uma porta.
Podes sair. Só tens que abrir a porta, e sorrir.

Realidade sala à direita. Suicídio sala à esquerda.

Tudo o que tens a fazer é escolher, mas não importa o caminho, o final é o mesmo.

1 comentário:

AA.LL disse...

Impressionante como me surpreendo tanto de cada vez que visito o teu blog. Sinto sempre que "ela escreveu exactamente o que eu queria ter escrito, mas não consegui formular as frases. E ainda bem que não consegui, porque mais em cheio ela já não conseguia acertar." Parabéns, és maravilhosa, keep it up!
E sim, o final é o mesmo. Para quê tanta escolha no percurso de uma vida?

PatDamian