segunda-feira, 19 de março de 2012

Há lugares onde gostaríamos sempre de poder regressar… memórias de um tempo em que acordar a cada dia era mais fácil…
Dias em que as horas passavam facilmente sem que as notássemos…
Há lugares que permanecerão para sempre gravados na nossa mente… presos a uma música qualquer que por acaso ouvimos… presos a palavras que eventualmente escutamos algures sem esperarmos…
Há vidas perdidas em infâncias incompletas… anos que passaram depressa demais sem que tenhamos tido oportunidade dos viver…
Há palavras que desejávamos ter dito… outras, porém das quais nos arrependemos tantas vezes de sequer as ter pensado…
Há um desespero emergente em nós em cada vez que ousamos cruzar a fronteira do tempo e, por segundos, abandonamos o presente e colocamo-nos naquele momento que teima em não nos deixar seguir em frente…
Há uma criança em nós... Que não quer crescer… que ainda brinca até ao anoitecer sem preocupações… que não quer saber nada das coisas sérias do mundo… que vive na inocência dos longos dias de verão...
Há uma adolescência inacabada em nós… cheia de revoltas… inseguranças… medos… futilidades…
Um dia acordamos e o mundo diz-nos que somos adultos.
Preparados ou não, eis-nos no mundo dos crescidos… o mundo para o qual sempre tentaram fazer-nos crer que não estávamos preparados para enfrentar… e que de um dia para o outro nos empurram para ele…
O que fazemos agora?
Seremos a criança… viramos as costas e vamos brincar que o sol ainda não se pôs?
Seremos o adolescente e revoltamo-nos e fugimos de casa?
Ou seremos o adulto construído á pressa em nós… inventado á custa de comportamentos copiados?
Somos apenas uma construção de alicerces frágeis.
A uma mínima rajada de vento de entramos em colapso.
Somos obrigados a crescer. Ter responsabilidades. Encarar a vida.
Trabalho. Dinheiro.
A vida de adultos baseia-se nestas duas premissas.
Temos que ter um trabalho. Qualquer. Qualquer ocupação que nos permita receber dinheiro em troca. Dinheiro esse que vamos passar o resto da vida a perseguir. Dinheiro que sentimos que temos que ter... Para comprar todas as coisas de que não necessitamos… mas que a sociedade nos faz acreditar que não somos ninguém sem elas…
Temos que encher uma casa com objectos que de nada servem.
Temos que comprar roupa.
E tudo e tudo…
O resto da vida será apenas um ciclo vicioso de consumismo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Ha imenso tempo que nao m identificava tanto com um texto teu e me dava tanto prazer de ler. Adorei. Beijoca . Rik